Um personagem de ficção, uma comerciante israelita chega à aldeia, abrindo uma pequena banca de souvenirs no centro da localidade, vendendo souvenirs, postais, porta-chaves e pequenas bandeiras. As imagens gravadas nos souvenirs são da própria aldeia, de pessoas que aí vivem e de diferentes momentos captados pelo olho da câmara. A comerciante Israelita falará com os seus clientes na sua língua mãe, a qual é o Hebreu, uma linguagem que é algaraviada para os habitantes da aldeia. O público não sabe que a comerciante é uma actriz.
No meu trabalho pretendo levar as pessoas da região de Nodar a questionarem e a exprimirem o medo de perderem a sua tradição e a vontade e necessidade de a preservarem.
Ao colocar uma comerciante não-nodarense, não-portuguesa e não-europeia a vender memórias de Nodar, pretendo criar um espaço de expressão extrema da situação e conflito que os habitantes de Nodar estão a experienciar. A personagem – uma vendedora muito desenvolta, representa simultaneamente o imigrante que não pertence e que não fala a língua da região e o intruso, aquele que entra no espaço privado da aldeia e ameaça a sua ordem estabelecida.
É interessante para mim ver de que forma a população de Nodar responderá a esta comerciante.
Vered Dror é uma artista visual que utiliza diversos meios, combinando artes performativas. Nasceu em Tel Aviv, estudou e viveu em Jerusalém, tendo regressado recentemente a Tel Aviv. No seu trabalho Vered Dror explora a relação entre a esfera pública e as pessoas privadas actuando na sua vida no âmbito dessa mesma esfera, jogando com as fronteiras entre as duas e com a forma como se ambas se alimentam entre si.
Frequentemente a artista escolhe focar-se em pessoas ‘simples’, cuja vida se desenvolve na fronteira difusa e mutável entre a esfera privada e a esfera sócio-política. A sua identidade é formada e reformada constantemente através de mecanismos de resistência e de aceitação.
Estes temas podem ser encontrado nos seus trabalhos, desde o último “Private Home” no qual estampou graffitis Brielle em 3D nomeando e marcando como “privadas” as áreas de dormir de pessoas sem-abrigo, até “Street Tales” (Neighborhood Projects, Train Theater, Jerusalem, 2006) em que diferentes lugares de um bairro foram renomeados de acordo com histórias privadas e memórias da zona contadas pelos seus habitantes. Em “Balcony Tales” (San Salvario mon Amour, Torino, 2005) os habitantes de um prédio estavam ligados através das suas varandas por fios de roupa estendida e cestos e eram convidados a partilhar memórias, alimentos, etc.