Longe no tempo vão os serões beirões à lareira, quando nas longas e frias noites de inverno se buscava a companhia dos vizinhos para levar a cabo tarefas como aquelas ligadas ao ciclo do linho, essencialmente fiar mas também dobar e ensarilhar os novelos, enquanto histórias locais, lendas, leituras da Bíblia, etc. se partilhavam.
Nas grandes panelas de ferro eram cozidos alguns enchidos (chouriças de carne, morcelas) para serem partilhados com uns nacos de broa de milho. Os homens, às vezes também presentes (o frio apertava para todos!), optavam por jogar às cartas, contar as suas próprias histórias ou acertar algum negócio de animais.
Não obstante ser um contexto social bastante comum, buscar uma uniformidade nestes serões é um esforço vão pois, tal como não existem duas aldeias iguais, não existem duas famílias que tenham exatamente os mesmos hábitos. Essas diferenças ficam bem expressas neste serão gravado na aldeia de Várzea de Calde (Viseu) em 2017 com algumas das senhoras a marcarem de forma vincada a especificidade dos serões das suas famílias.
Esta gravação com as mulheres do Grupo Etnográfico de Várzea de Calde (Viseu) fiando e cantando as suas modas, é um tributo às gentes idas de todas estas aldeias da Beira Alta que viveram toda uma vida no limite da necessidade suprida, sem luxo, sem excesso, apenas com o calor de vidas preenchidas entre trabalho, crenças e partilha.
Serão gravado por Luís Costa e Liliana Silva em 22 de Março 2017 e editado por Liliana Silva, em simultâneo para o Arquivo Digital Binaural Nodar e para o Arquivo Viseu Rural 2.0, co-financiado pelo Programa Cultura do Município de Viseu, pela Direção Geral das Artes e pelo Programa Europa Criativa (Rede Tramontana).