Noutros tempos, “tudo se semeava, tudo se tratava e lavrara” em Várzea de Calde, no concelho de Viseu. Dado que a agricultura tinha uma importância crucial no sustento das famílias, “a água era muito necessária”. Toda ela era pouca e “tinha de ser muito bem aproveitada para os mantimentos”, salienta Herculano Gonçalves, acrescentando que os proprietários estavam sempre atentos às horas e dias em que podiam regar. Embora nunca tenha havido nada escrito, esta distribuição ficava na memória da comunidade.
Como a necessidade aguça o engenho, nas nascentes faziam-se as poças e, quando estas fraquejavam, construíam-se charcos ou levadas nas ribeiras.
A Ribeira da Várzea, a Ribeira das Levadas, o Ribeiro do Sabugueiro, o Ribeiro do Sampaio, o Ribeiro do Fontão, as Poças das Quartelas, do Sampaio, do Lameiro do Moinho e da Frágua eram alguns dos pontos de referência.
A Barragem de Calde veio modificar esta realidade, dando nova vida à Ribeira da Várzea, que nasce no lugar do Penedo dos Ujos, um vale acentuado entre o limite de Várzea de Calde e Nogueira de Côta. “Hoje já não se rega de noite ou ao domingo. Temos uma rede com as suas directrizes para que todos reguem e que assegura a gestão dos mais de 90 hidrantes existentes ao longo das terras”, explica.
Por outro lado, nota, a barragem, embora tenha sido projectada só para a zona rústica, como “sobejava água”, foi feito um pedido à Direcção Geral de Agricultura e Pescas do Centro para alargar a sua utilização à zona urbana. Após um estudo e um protocolo com os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento da Câmara de Viseu, o seu aproveitamento estendeu-se também ao consumo doméstico, servindo as seis aldeias da freguesia. “A água quase podia beber-se na origem, dizem os técnicos, mas é tratada” para este efeito, adianta o responsável, explicando que são feitas análises regulares.
Por motivo de logística aquando da sua construção, foi necessário formar a Junta de Agricultores do Regadio de Várzea de Calde, que Herculano Gonçalves integra desde 1993.
Entre outras tarefas, a entidade cuidada e limpa o talude da barragem e a zona envolvente, assegura a manutenção do circuito de hidrantes e tem um papel activo na sensibilização para que não se estrague a água, que é um bem essencial. “A barragem foi uma vantagem muito grande”, garante.