Várzea de Calde, primavera de 2019. Registo sonoro integrado numa série de gravações realizadas para o projeto Viseu Rural 2.0 e para o Arquivo da Memória de Várzea de Calde, cujo tema principal são diversos usos e conhecimentos sobre plantas: medicina, culinária, construção de ferramentas, rituais, jogos, etc.
Miquelina Duarte fala da gestão de recursos comuns como a combustão para o fogo das lareiras e de outros não tão requeridos como o tojo, que a sua família levava para Viseu para vender a algumas padarias, iam duas carradas por semana. A carqueja usava-se para queimar nas lareiras, já que antigamente os pinheiros não eram tão comuns como passou a ser mais tarde. Existia a figura o guarda que avisava, tocando o sino da capela, quando era permitido ir buscar a carqueja, indicando o lugar exato de onde ser podia cortar a referida carqueja e a que parte correspondia a cada família. Se o guarda florestal surpreendia alguém a cortar este valioso recurso fora do que tinha sido estipulado, essas pessoas eram punidas o que aconteceu a algumas mulheres de aldeia, as quais chegaram a passar a noite na cadeia. Talvez por necessidade, as pessoas acabavam por tentar cortar a carqueja de que forma fosse, e por vezes ensaboavam as rodas do carro de vacas para que não chiasse.
Noutro registo, Miquelina recordou-nos que existiam cento e cinquenta juntas de vacas na aldeia e que os habitantes que só tinham uma vaca, combinavam com outros vizinhos que estivessem na mesma situação para trabalharem à vez com duas vacas jungidas.
Entrevista de Ana Rodríguez com Miquelina Duarte Gonçalves (n. 1937).