Nascida em 1969, em Várzea de Calde – Viseu, terra dos seus pais, Maria Goretti Gonçalves cresceu no fundo do povo.
Por ali, muita gente tratava e cultivava o linho, pelo que recorda as senhoras a passarem com as trouxas à cabeça, quando as encomendas seguiam até aos clientes. O longo processo de transformação da planta era o ponto de partida para muitos convívios na aldeia, algo que Maria Goretti Gonçalves lamenta ter-se perdido.
Era uma aldeia cheia de vida, com gente nas ruas, mas onde as dificuldades económicas e a baixa natalidade, levaram ao envelhecimento populacional e à desertificação. Só a vinda dos emigrantes, no verão, ajuda a recuperar essa vitalidade.
Embora semeasse e maça-se o linho, a sua mãe gostava mais de costura e, por isso, não tem raízes no setor. Só mais tarde, depois de algumas experiências profissionais, da emigração na Suíça e de ter frequentado um curso de formação ligado à tecelagem, é que tomou maior contato com o seu ciclo de trabalho. “Foi uma paixão assolapada”, nota, recordando que surgiu, paralelamente, a Cooperativa de Linho de Várzea de Calde, que seria uma forma de perpetuar a tradição e um complemento para a economia local.
Com exceção de alguns estrangeiros, a artesã aponta que a atividade não é tão valorizada, “e quem compra não tem noção do trabalho que dá”.
Ainda assim, Goretti Gonçalves não baixou os braços e tem procurado evoluir, por exemplo criando desenhos decorativos, mas sem perder as raízes que tornam o trabalho único e ancestral. “O linho é uma paixão”, conclui.