Lúcia Fernandes Ferreira nasceu em Várzea de Calde, no concelho de Viseu, em 1949. Foi criada pelo avô materno e padrinho de batismo, José Ferreira Maurício, e pelas tias, até aos 9 anos.

É a mais velha de 10 irmãos, nascidos em casa com a ajuda da parteira da aldeia. O pai, Acácio Ferreira, trabalhou na resina, comercializava terras e foi alfaiate, “mas não deixava ninguém mexer nas máquinas para não estragar”. Já a mãe, Felismina Fernandes, cultivava o campo e era tecedeira. Mais tarde, teve uma loja de mercearia e taberna, onde aproveitava cada bocadinho em que não estava a aviar os pedidos dos fregueses para ir para o tear. E Lúcia Ferreira ia espreitando e adquirindo conhecimentos.

Na época, o linho era um produto com larga expressão na aldeia, existindo um tear em quase todas as casas. Trabalhava-se serão fora, com as vizinhas e amigas a juntarem-se para fiar, ensarilhar e cantar, em volta da fogueira. O ambiente era de festa, e não faltavam os figos que ajudavam a alimentar o estômago ou os torresmos do porco conservados em banha.

A necessidade de trabalhar para ajudar os pais e a responsabilidade de cuidar dos irmãos fizeram com que “perdesse muita coisa que podia ter aprendido”. Diz, por exemplo, que “gostava de saber tocar acordeão e de ser costureira”.
Também por isso, perto dos 63 anos de idade, quando já “tinha os filhos criados”, não deixou escapar a oportunidade de começar a tecer e de concretizar este desejo antigo, continuando a herança da mãe, com quem viria a aprender também a urdir.

A atestar a importância que esta arte teve ao longo da sua vida, Lúcia Fernandes Ferreira abre-nos a porta da sala onde está guardado o tear usado pela sua mãe e que está na família há largas décadas.