Documento integrado no projeto “O espírito da colmeia”, um projeto artístico de Manuela Barile que partiu de uma investigação etnográfica sobre a apicultura na aldeia de Várzea de Calde. Sendo o mel usado como alimento desde os alvores da civilização, foi interessante perceber como uma comunidade situada num contexto ambiental de grande diversidade ao nível da flora autóctone se especializou ao longo dos tempos na produção de produtos derivados da criação racional de abelhas (várias subespécies de Apis mellifera) como o pólen apícola, o própolis, a cera e o próprio mel.
Nascido em Várzea de Calde a 01 de Setembro de 1959, Leonel Ferreira de Oliveira diz que a sua paixão pela apicultura surgiu ainda durante a sua infância. Afirma que continua atualmente a praticar esta atividade, enquanto passatempo, sobretudo pelo gosto que mantém em lidar com as abelhas.
Recorda que quando nasceu, os seus avós já tinham colmeias. Em sua casa já haviam “os cortiços, já vinham as abelhas para casa quando se traziam os cortiços que morriam as abelhas. Quando se tiravam o mel, as casas já andavam cheias de abelhas… Até vinham os enxames ter a casa”.
Conforme outros apicultores de Várzea de Calde, Leonel Oliveira dispõe de um conjunto de colmeias em diferentes pontos da aldeia. Curiosamente, conta-nos que mantém ainda em casa do seu pai, duas ou três colmeias “que toda a vida lá estiveram, ao pé de casa”. “(…) Atrasado, tínhamos lá as vacas, as vacas estavam estacionadas à frente das colmeias e não as mordiam. E nós todos os dias ali passávamos e elas não nos mordiam. Só nos mordiam se uma pessoa as atacasse”.
Destaca a forma e melhores locais para colocar as colmeias, assim como o tipo de florestação mais consumida pelas abelhas na sua aldeia e a influência que esta poderá ter na coloração do mel produzido. Relativamente aos cuidados a ter com as colmeias ao longo de um ano, Leonel Oliveira recorda as diferenças que existem atualmente, em comparação com o que era feito antigamente. Desde a sua infância que se recorda de ir com o seu avô, nos princípios do mês de Fevereiro, ver os cortiços e limpar as colmeias. A este processo denominavam de “estinhar”. Ou seja, era o nome dado ao processo de “varrer a pedra onde ela estava no chão. Varrer, e por baixo virar o cortiço de lado, um bocadinho e cortar a cera que embarrava no chão. Chamava-se aquilo limpar a colmeia”.
Atualmente diz que o processo é totalmente diferente, fazendo com que logo desde o mês desde Janeiro até ao mês de Março seja necessário estar sempre a controlar e curar as colmeias. Se assim não for, pelo facto de as abelhas serem um ser tão “delicado”, qualquer doença pode colocar em causa uma colmeia.
Entrevista realizada por Manuela Barile em 3 de setembro de 2018.