Documento integrado no projeto “O espírito da colmeia”, um projeto artístico de Manuela Barile que partiu de uma investigação etnográfica sobre a apicultura na aldeia de Várzea de Calde. Sendo o mel usado como alimento desde os alvores da civilização, foi interessante perceber como uma comunidade situada num contexto ambiental de grande diversidade ao nível da flora autóctone se especializou ao longo dos tempos na produção de produtos derivados da criação racional de abelhas (várias subespécies de Apis mellifera) como o pólen apícola, o própolis, a cera e o próprio mel.
Leonel da Cruz Lopes nasceu na aldeia de Várzea, distrito de Viseu a 28 de Setembro de 1959. Paralelamente à sua atividade profissional na área da construção civil, envergou pela apicultura enquanto hobby, após regressar da Suíça em 1988 onde esteve emigrado. Na altura, registou-se na Associação de Apicultores da Beira Alta e foi em Leiria e na Lousã que foi buscar as suas primeiras colmeias. Atualmente, diz ter ainda cerca de cinquenta e cinco colmeias, distribuídas entre a aldeia de Várzea de Calde e de Travassós de Baixo.
Curiosamente, uma das motivações que levaram a Leonel da Cruz a ser apicultor, foram os benefícios que ouviu dizer acerca das picadas das abelhas: “eu sempre ouvi dizer que a picada da abelha é boa para os ossos, contra o reumatismo, e outras coisas assim”. Conta-nos inclusivamente o caso de uma pessoa conhecida que comprou quatro colmeias para ser picado por elas.
Quando se trata de escolher o melhor local para colocar as colmeias, Leonel da Cruz afirma que “a colmeia deve estar virada a sul ou a sul nascente, sudeste. Nunca viradas a norte e nunca viradas a nascente, que é contra o vento (…). Porque não funciona, há o vento que bate nelas e elas morrem”.
Para além do vento e da chuva, afirma que as abelhas têm um conjunto de outros inimigos, entre elas algumas doenças, com as quais é necessário ter alguns cuidados. Leonel da Cruz dá o exemplo nomeadamente da doença da “varroa”, do “giz” e da “loque”, realçando que quando ocorre esta última, “deve-se queimar tudo. Ou seja, a colmeia morre, as abelhas morrem. já avisei muita gente, deve-se queimar tudo porque é uma doença incurável”.
Relativamente a outros animais, diz que a vespa velutina ou a crabro, são os seus principais predadores. Leonel da Cruz descreveu ainda todas as fases e cuidados a ter com as colmeias ao longo de um ano de trabalho até à produção do mel, assim como as diferenças entre a apicultura de antigamente e a atual.
Entrevista realizada por Manuela Barile em 4 de setembro de 2018.