É em torno da aldeia de Várzea de Calde, com a sua floresta abundante e diversificada, que Isabel do Souto e Leonel Oliveira possuem os apiários onde é produzido um mel distinto, de cor escura, para o qual contribui a riqueza da paisagem natural, em que ganham destaque, entre outros, a urze, o rosmaninho, a flor de cerejeira, o sabugueiro, o carvalho e a oliveira. 

Habituada a estas lides, Isabel do Soito fala do ciclo da apicultura ao longo do ano e descreve os nomes que são dados às diferentes partes de uma colmeia, nomeadamente as alças e o ninho, bem como a função de cada uma delas no processo. Ao mesmo tempo, e com o auxílio de um alicate e de um fumigador, o casal mostra o interior de uma destas estruturas, com os diversos níveis de produção de mel e a hierarquia das abelhas, com destaque para a abelha rainha, que se carateriza por ser “mais comprida” que as restantes. 

Na família de Leonel Oliveira, esta é uma tradição que tem passado ao longo de gerações, uma vez que já os avós do seu pai tinham colmeias em cortiços, feitos a partir da matéria-prima retirada dos sobreiros. Já nessa época, tal como acontece nos dias de hoje, esta arte ajudava à economia local, dado que o mel e a cera eram muito procurados. 

Documento integrado no projeto “O espírito da colmeia”, uma criação artística de Manuela Barile que partiu de uma investigação etnográfica sobre a apicultura na aldeia de Várzea de Calde. Sendo o mel usado como alimento desde os alvores da civilização, foi interessante perceber como uma comunidade situada num contexto ambiental de grande diversidade ao nível da flora autóctone se especializou, ao longo dos tempos, na produção de produtos derivados da criação racional de abelhas (várias subespécies de Apis mellifera) como o pólen apícola, o própolis, a cera e o próprio mel.