Alcina Ferreira Campos nasceu (em 1956), cresceu e casou em Várzea de Calde – Viseu, terra que já era de seus pais. Tem três filhos e oito netos.
Da sua infância ficam as memórias de uma família numerosa, de oito irmãos, que tinha muitos terrenos que era preciso cultivar, ainda de forma tradicional. Antes de irem para a escola, as crianças já ajudavam nestas lides. “Era o normal”, conta.
Lavrou terra, semeou milho, feijão e hortaliças; cortou estrume e erva à gadanha. Sendo terras férteis e de muita água, muitas vezes, lembra, “chegava-se a regar de madrugada, com uma candeia a petróleo”, para aproveitar a água corrente.
O pai teve o primeiro trator da aldeia, que viria a retirar a vida, num acidente, ao seu irmão, na altura com 18 anos.
Alcina Campos casou em 1976, aos 19 anos, e emigrou para a Suíça em 1984.
No regresso, a arte do linho regressou à sua vida, após lhe ter calhado, em herança, o tear da sogra.
“Sou curiosa. Se tenho um tear porque não hei de montá-lo?”, questionou-se. E se assim pensou, melhor o fez. Como surgiu a oportunidade de participar nas Cavalhadas de Vildemoinhos, mandou arranjar o equipamento e levou-o ao desfile. Em cima de um trator, fez o percurso a tecer uma manta, para recuperar esta tradição antiga. O entusiasmo foi contagiante e durante vários anos, juntamente com a comunidade local, fez recriações etnográficas no evento.
Pelo meio frequentou o curso de tecelagem “Da sementeira ao pano”, na década de 90, e um grupo de colegas decidiu lançar a semente à terra.
O próximo passo viria a ser recriar todo o ciclo do linho, mantendo as etapas que se lembrava de ver a mãe e as vizinhas a fazerem. Foi aí que percebeu que não era tarefa fácil. Mas, como gosta de “inventar”, até experimentou maçar o linho calcando-o com o peso do trator, que retirava a parte fibrosa da planta, em vez de o fazer manualmente. A moda acabou por pegar na aldeia, diz Alcina Campos entre risos.
“O linho tem um tempo”, frisa, e vai desfiando todas as fases: semear, mondar, regar, arrancar, ripar em verde e, depois de feitos os molhos, curtir em água corrente, com muitas pedras por cima para não fugir. E as voltas continuam: maçar, tascar, sedar, roca e fuso, sarilho, cozer, fazer a barrela para lavar, corar e depois a dobadoira para fazer o novelo e, finalmente, o tear.
Graças a iniciativas individuais e coletivas – como é o caso da Cooperativa do Linho e do Grupo Etnográfico de Várzea de Calde – aqui “o linho continua bem vivo”.