Várzea de Calde, primavera de 2019. Registo sonoro integrado numa série de gravações realizadas para o projeto Viseu Rural 2.0 e para o Arquivo da Memória de Várzea de Calde, cujo tema principal são diversos usos e conhecimentos sobre plantas: medicina, culinária, construção de ferramentas, rituais, jogos, etc.
Conversámos com Emília Bernardino sobre o uso de folhas e flores de plantas medicinais já que, como tantas pessoas na aldeia, ela as cultiva e conserva na sua horta, as quais são secas e guardadas para casos de necessidade. Emília prefere beber os chás sem açúcar, mesmo que sejam azedos. Ela recorda um sítio junto a um regato onde havia sempre solda e, como várias pessoas tinham-nos referido essa planta, quisemos ir conhecê-la.
Percorremos então algumas terras nas quais pastavam as suas ovelhas e recordámos os inícios de um casal recém-casado em que, para “pagar a obrigação” de alguns serviços como carradas de estrume ou de lenha tinha que ser “com o corpo”, ou seja com trabalho manual. Posteriormente, eles passaram a usar o mesmo método mas com trabalho de máquinas, como dar uma “fresadela” ao campo de algum vizinho a troco de erva, por exemplo.
Falámos de ovelhas, de ervas e de pastos bons para a sua alimentação, tanto naturais como cultivados, assim como das rotinas de trabalho, o necessário acondicionamento da forragem para o inverno, a alimentação e cuidado das vacas e ovelhas no mesmo período e a troca de terras entre habitantes para a gestão mais eficiente dos animais, resultando em benefícios mútuos.
Entrevista de Ana Rodríguez com Emília de Jesus Bernardino (n. 1948).