Celeste Fernandes, a mais velha de oito irmãos, nasceu e cresceu no Aido, como se designava o centro da povoação de Rebordinho, na freguesia de Campia, concelho de Vouzela. Saiu da escola com 10 anos, após ter concluído a quarta classe e ficou responsável por cuidar dos irmãos mais novos, uma responsabilidade que pautou a sua infância.
A família tinha uma loja de comércio onde se vendia um pouco de tudo, desde petróleo, carboneto para os gasómetros, aguardente, vinho americano, polvo fresco que vinha em cabazes de vime ou seco, queijo da serra, açúcar avulso, material de retrosaria ou para construção, entre outros. O seu pai era também um pescador famoso de truta à linha e vinha muita gente em busca dessa iguaria, servida acompanhada por batata cozida.
Entre as memórias que partilha, Celeste Fernandes fala ainda das lidas do campo. “Era um trabalho duro mas de alegria”, garante, recordando as estrigadelas de linho, as desfolhadas à noite e as ceifas do centeio, com que se fazia as bôlas e o pão. “As famílias eram maiores e os terrenos fabricados, sendo os alimentos aproveitados também para a criação de animais”, conta.
A avicultura, a resina e o vinho eram outras fontes de rendimento para as famílias.
Apesar das dificuldades, eram tempos de tradições e animação. No Carnaval, por exemplo, rapazes e raparigas mascaravam-se, enfarruscavam-se e percorriam a aldeia, atirando farinha. Era uma brincadeira que, na verdade, não escolhia idades e em que não faltava o bailarico.
As Festas de Santa Ana, com uma componente religiosa, o baile ao toque de gira-discos e as ruas enfeitadas de junco, eram outro dos momentos muito aguardados pela comunidade.