Entrevista à antropóloga e pesquisadora sonora uruguaia Ana Rodríguez, no contexto da residência artística Divina Sonus Ruris – O Som do Sagrado nas Comunidades Rurais, produzida pela Binaural/Nodar e cuja segunda fase decorreu em Outubro de 2013.
A antropóloga uruguaia Ana Rodríguez trabalhou na aldeia de Sequeiros (Município de São Pedro do Sul) e apresentou uma peça sonora final intitulada “La fragancia de los pensamientos salvajes”. (“A fragância dos pensamentos selvagens”).
O projeto visou a exploração livre e aberta dos “ritos sagrados” locais, do ponto de vista de alguém que não foi educada na tradição católica nem tinha experiências anteriores em Portugal.
Na sequência de uma aparição virgem, mas não ingénua, as perguntas feitas induziram relatos honestos, explicações, histórias de tradições locais relacionadas com a ligação entre a religião e a vida quotidiana, bem como com eventos especiais. Foi explorada tanto a dimensão da comunidade (por exemplo de trabalhos agrícolas como a vindima) como a do universo doméstico (nascimento, orações, rituais de cura, etc.).
Não se tratou de uma investigação antropológica por parte de uma académica, mas de uma investigação experimental, realizada num período de tempo curto. Constituiu uma incursão que não pretendeu apoderar-se dos tesouros dos anciãos do lugar, mas ser apenas um humilde intercâmbio cultural.
Uma mulher uruguaia procurou na memória do jardim cultural rural de Portugal as possíveis influências sobre as tradições que a moldaram, com contribuições de colonizadores espanhóis e imigrantes e de elementos culturais indígenas, o bosque cosmogónico das culturas rurais do norte do Uruguai, nomeadamente influenciadas pela contribuição do Português Brasileiro.
A peça sonora final foi composta a partir de diferentes materiais, conversas, entrevistas, paisagens sonoras, recitações, leituras, etc.