A sobreposição de épocas e de gerações é marcante na zona de Vouzela. Da pedra pré-histórica, à ponte romana, à fortificação medieval, às igrejas e casas antigas, à modernidade com os seus edifícios de betão e armazéns sombrios. Claro, que essa sobreposição existe em qualquer lugar, mas, para Salomon Caroly, ela é mais visível aqui do que no lugar de onde provém (Grenoble, França).
Através do seu trabalho, o artista interessa-se por lugares que poderiam ser chamados de “liminares”, lugares que parecem estar fora do tempo e do espaço, lugares que produzem alguns ecos adicionais no imaginário do que chamamos de real.
Em Vouzela, existe um local que atrai particularmente o artista: o rio Zela, especialmente a porção entre a ponte romana e o salgueiro-chorão. Esse sentimento leva Salomon a pensar que os rios existiam antes de todas essas atividades humanas. São eles que, pelo recurso vital hídrico que representam, viram nascer aldeias na sua orla, viram pontes erguerem-se, e muito mais tarde viram a autoestrada (uma espécie de rio) despontar no território, como simbolicamente é evidente no cruzamento entre o rio Alfusqueiro e a autoestrada A25, junto a Cambra. De certa forma, foi o rio que moldou a paisagem tal como a conhecemos hoje. Além disso, podemos notar que Vouzela deve o seu topónimo à sua localização na travessia de dois rios: Vouga e Zela e que o concelho é atravessado por outros afluentes do rio Vouga, como o rio do Couto ou rio Alfusqueiro.
Com “Before the bridge”, Salomon Caroly inicia o seu trabalho artístico com som, trabalhando com a matéria “rio”, já que foi precisamente o som do rio que mais tocou as suas entranhas.
Salomon Caroly nasceu na cidade de Grenoble (França), situada no sopé do maciço Alpino, sendo um jovem artista visual que termina atualmente o Mestrado em Arte pela École Supérieure d’Art et Designde Grenoble, efetuando um estágio Erasmus+ de três meses na Binaural Nodar. Salomon Caroly considera-se curioso, apaixonado pela natureza e pelas montanhas, para onde costuma fugir, tendo trabalhado em fotografia analógica, desenho, escrita e produção de livros, em projetos que podem assumir formas bastante diversas.