As vidas humanas dependem dos materiais e da matéria do nosso planeta – somos também compostos de matéria. Os desafios enfrentados pela nossa existência contínua e pacífica na Terra, como as alterações climáticas, a nossa coexistência com outros seres animados e nossas sociedades rapidamente em evolução, bem como os dilemas relacionados com a pobreza, a fome e a migração, estão todos enraizados em matéria e em materiais. Os humanos não existem sem ou separados da matéria. No entanto, a maior parte da nossa discussão sobre como resolver ou até mesmo enfrentar esses desafios está focada nos pontos de vista dos seres humanos, talvez às vezes esquecendo da parte importante da nossa realidade que é a matéria.

Riikka Haapasaari interessou-se em saber que tipo de perspectivas se abrem se nos tentarmos ajustar à forma como os materiais podem ver o mundo e tornarem-se agentes mais ativos na existência humana. E se tentarmos explorar narrativas, pensamentos e experiências com materiais, em vez de tratar os nossos inanimados companheiros como simples temas? Que tipos de pontos de vista emergem e que podemos aprender sobre a nossa existência, sobre nós mesmos e sobre os nossos desafios, através de um diálogo
com materiais?

Neste projeto a artista estabeleceu um diálogo com a pedra, e especificamente com o granito. Esta foi uma jornada feita de interações com pedras e de visitas locais (no concelho de Vouzela), focando-se em como, talvez através da imaginação, o granito falaria connosco sobre a existência, através do vazio, do desconhecido e da aceitação de mudanças. Através de tudo isto, a artista espera ter-nos empurrado gentilmente para uma situação existencial mais compassiva com os nossos companheiros materiais.

Riikka Haapasaari é uma artista e cineasta que trabalha com a luz e com o tempo com o objetivo de narrar o invisível e o intangível. Atualmente, está focada na utilização de materiais como o vidro para gerar diferentes e curiosos pontos de vista sobre o que significa ser humano, trabalhando numa perspetiva interdisciplinar entre o artesanato, o cinema e as artes plásticas, Haapasaari desenvolve formas de integrar processos artesanais tradicionais, como a fabricação de vidro, na produção de projetos de imagens em movimento. Em 2021, Riikka Haapasaari doutorou-se pela University of Sunderland e, antes disso, obteve um mestrado pelo Royal College of Art (2014) e uma licenciatura pela Aalto University (2012). Haapasaari apresenta o seu trabalho globalmente em exposições e festivais. Representou a Finlândia no European Glass Contest em 2021 com “Light Keeper”, uma longa-metragem experimental que produziu em 2020. Recentemente, essa longa-metragem recebeu uma Menção Honrosa no Fórum Experimental (2021), venceu a categoria de filme experimental no Festival Internacional de Cinema da Polónia (2020) e a artista foi nomeada na categoria de melhor realizadora no Alternative Film Festival Toronto (2020).