Foi sonhando na preservação de valores ancestrais dos seus antepassados que germinou e nasceu, em 1992, o Grupo de Cavaquinhos e Cantares à Beira, numa das freguesias mais ribeirinhas do Município de Vouzela, de seu nome Queirã, em equidistância regular, entre 12 a 15 km de Vouzela, São Pedro do Sul, Tondela e Viseu, respetivamente. Por tudo isto, e muito mais, um grupo de amigos da Freguesia de Queirã decidiu aprender a tocar cavaquinho e, através dele, recuperar as tradições musicais e étnicas, riquíssimas, da sua localidade/região, surgindo assim o Grupo de Cavaquinhos e Cantares à Beira.

O Grupo é constituído por gente das mais variadas idades e profissões, num total de 20 elementos atuantes, sendo os cavaquinhos a sua base instrumental, acompanhados de bandolins, viola, viola beiroa, baixo, acordeão e bombo.

As lides agrícolas das laboriosas gentes de Queirã, em solos de imensa fertilidade, proporcionaram ao longo dos tempos o constante amanho da terra, onde o dia-a-dia, se transformava em serenas canseiras, sons agrestes dos moitedos, com o sussurrar das enormes torrentes, a caminho dos ribeiros, melodias suaves, com o chilrear do melro e da cotovia… E, foram essas belezas que, de geração em geração, foram chegando até nós, através da música, do canto, dos costumes, das tradições… Não quis o Grupo de Cavaquinhos e Cantares à Beira (nem quer!…) deixar secar esses encantos, para que não se sinta a terra a ficar deserta.

Foi no início do Grupo, para comprar os primeiros cavaquinhos, que Cavaquinhos e Cantares à Beira começou de imediato a perpetuar a tradição de Cantar as Janeiras. Rapazes e raparigas, à noite, juntavam-se para cantar de porta em por- ta, saudando os donos, desejando “Boas Festas” e um “Bom Ano”, pedindo as “janeiras”.

Já foram editados seis trabalhos discográficos: o primeiro, apenas em cassete, em Maio de 1996; o segundo, em CD e cassete com o nome de “Grupo de Cavaquinhos e Cantares à Beira”, em Abril de 1998; em Novembro de 2000 gravou o seu terceiro trabalho discográfico, em CD e cassete, de seu nome Com (Tradições).

Com (Tradições) finaliza mais uma etapa do Grupo de Cavaquinhos e Cantares à Beira, amadurecido pelos oito anos de actividades, apaixonado pelas suas raízes e sempre em busca de algo que o caracterize a si e à região, onde se insere. Em preparação para novo “desafio fonográfico”, desde 2003, estiveram as vozes do Grupo, no que concerne a temas relacionados com as canções cromáticas / litúrgicas / religiosas / modos exóticos.

Com a colaboração dos Grupos de Cantadores das Almas Santas de Alcofra e de Carvalhal de Vermilhas, respectivamente, foi apresentado no dia 09 de Abril de 2006, em Livro e Cd, o seu 5º trabalho, com temas muito específicos, intitulado “Os Cantos às Almas do Purgatório”. Em 2009 Cavaquinhos e Cantares à Beira lança o seu 6o trabalho, “Menina…Tir’o Chinelo” inspirado nas músicas e danças de roda.

Ao longo destes 25 anos, foram diversos os palcos pisados pelo grupo de norte a sul de Portugal, ilhas dos Açores e Madeira, assim como outros países além fronteiras Luxemburgo, Cabo Verde e Brasil, sempre com o objetivo de divulgar e preservar a música tradicional da Região de Lafões.

 

Ano Novo

Ano Novo, Ano Novo
Ano Novo, melhor ano,
Vimos cantar as janeiras
Como é lei de cada ano.
(Bis)

Boas festas, Santas festas
Está a alva a ruçar
Venha-nos dar as janeiras
Que temos muito p’ra andar.
(Bis)

Levantem-se meus senhores
Desse banquinho de prata
Venha-nos dar as janeiras
Que está um frio que mata.
(Bis)

Sr. António,
Lindo cravo,
Mande a moça à salgadeira
Dar esmola,
Vantajada,
Não a faça regateira.

A sua adega tem vinho
De beber nos pode dar
Tem porco na salgadeira
Já não falta que trincar.
(Bis)

Se o presunto está teso
E a faca não quer cortar
Faça-lhe furrum fum fum
Nas beiças do alguidar.
(Bis)

Dai-nos figos,
Do sequeiro,
Ou bola do tabuleiro,
Se vos custa,
Dar-nos isso,
Abra a bolsa do dinheiro.
(Bis)