SOBRE CAMINHOS
“Todos os caminhos darão a lado nenhum…” Um caminho é uma linha que conecta dois pontos. O ponto de começo de uma caminhada é sempre claro; é onde nos encontramos quando se começa. É mais difícil definir onde o caminho poderá terminar. Será que fica indefinidamente mais pequeno até que desaparece na natureza selvagem? É possível ocorrer a transformação de um percurso animal já não marcado em mapa… ou será que podemos dizer que o percurso aproveitado por humanos acabou? Será que quando se mergulha em outro caminho, o pequeno percurso inicial termina para dar lugar ao começo do caminho maior? (tal como o desaguamento de um rio no mar) Ou será que ainda prevalece tranquilo como um sub-caminho dentro do maior, escondido a olho nu? Quando um caminho desaparece, dissolve-se lentamente na selvagem, onde fica oponto de término? Não fica, porque não é uma classificação que possa ser atribuída… porque o mais provável é que seja no meio do nada.
ACABAR NO MEIO DO NADA
Se todos estes caminhos incompletos acabam no meio do nada, então eles acabam todos no mesmo sítio, “Lado-Nenhum”? Por um minuto, sejamos irracionais e imaginemos que isto é algo fisicamente impossível; A eventualidade de que possa existir uma dobra fracional minúscula no contínuo do espaço-tempo, que lida a um limbo, a começar exatamente onde um caminho acaba, a terra-de-ninguém, uma sala branca e vazia sem paredes. Se isto existe, é tão pequena e precisa que não é visível a olho nu – o que poder o porquê de não se conseguir visualizar quando é que um percurso termina. No entanto, será que com a ajuda de um instrumento que desperte um dos nossos sentidos haverá a possibilidade de um conseguir obter essa percepção? Será que um instrumento de gravação poderá despertá-lo sonicamente? Será verdade que a onipresença física impossível (excepto a nível quântico); mas possível a coexistência de dois lugares sônicos que um apenas necessita de sobre por dois sons. Sendo assim, onde será o lado-nenhum? O lado-nenhum é a soma de todos os lugares por onde o caminho desaparece. É onde todos os “lados” se cruzam.
PORQUÊ O FIM DO CAMINHO?
A procura por um fim do caminho, pode ser vista como um desfecho otimista; é dito que todas as coisas têm o seu fim, um objetivo ou pelo menos uma explicação. A ideia de que não há nenhum fim específico a um caminho, mas apenas um desaparecimento gradual é uma metáfora interessante; Aprecio a ideia de que algumas destas coisas possam ser deixadas por acabar. Em que os limites possam não ser claros. Existe um infinito conjunto de tonalidades de cinzento entre o binário do bom e do mal. É um facto que me lembra do meu processo artístico criativo, que por si só é um caminho. Semelhantemente, o começo é sempre claro (um que recorrentemente agrega um plano ou mapa), apesar que a procura do local exato acaba por ser mais difícil. Tomar um caminho é tomar uma decisão, uma seleção numa determinada direção (pode até mesmo ser ao contrário). Numa região inteira de caminhos e percursos, existe uma complexa teia de escolhas, uma assembleia de possibilidades. Nesta teia, a escolha pertence ao utilizador, não ao criador do caminho. Esta activa toma de decisão relaciona-se mais a composições generativas de fim-aberto do que peças sonoras com duração pré-determinada. Assim, proporia um software generativo para reproduzir as gravações.
Pierce Warnecke é um artista sonoro e de vídeo, que reside em Berlim. Licenciou-se da Faculdade de Música de Berklee (Berklee College of Music) em 2007, e em 2013 completou os seus estudos Meisterschüler (Mestrado) na Universität der Kunst, Kunst und Medien (Universidade de Artes, Artes e Mídia). Adicionalmente ao seu trabalho artístico, Warnecke é co-curador do Micro Festival Emitter com Kris Limbach. Já apresentou o seu trabalho no Instituto KW (Berlim), LEAP (Berlim), Harvestworks (Nova Iorque), Luggage Store Gallery (SF), Berklee (Boston), Cal Arts (Los Angeles), assim como festivais tais quais Zero 1 Biennale,Transmediale, Bozart/BEAF (Brussels), Boston Cyberarts, Visionsonic, Pixelache, Vidéoformes, SXSW Interactive, entre outros. Tem música publicada em Khalija, Staaltape, Gaffer and Attenuation Circuit, e Gruenrekorder.