Próprios de uma aldeia tradicionalmente rural, Paços de Vilharigues, os cantares eram a forma mais natural de expressar todo o tipo de sentimentos. Aliviavam o cansaço nos trabalhos das ceifas, das malhas, das arrancadelas e estrigadelas do linho e nas noites de desfolhadas.

Na adversidade eram os clamores da ladaínha suplicando a Deus o sol ou a chuva e a bênção para as sementeiras. No extremo da agonia eram os cânticos do “Senhor Fora”.

Todos os tempos litúrgicos eram assinalados com devoção por cantares. Os cânticos da Adoração do Menino, as Janeiras, os Reis, o Amentar das Almas na Quaresma, os cânticos da Paixão do Senhor na ida e vinda das Endoenças em Cambra e Vouzela, as aleluias festivas da Páscoa, a Santa Combinha, o S. João, a Senhora da Saúde e todos os cantares de ida às Romarias da Senhora das Neves, Senhora do Castelo e à Rainha Santa de Arouca.

Para que não caísse no esquecimento toda esta sabedoria popular, foi criado no ano 2000 o Grupo de Cantares para recolher e transmitir às gerações futuras a maneira de ser das suas gentes. Integrado na Sociedade Musical, associação mais antiga desta aldeia, o grupo é composto por cerca de três dezenas de elementos, de várias idades, registando-se a presença de três gerações: netos, filhos e avós.

O grupo tem como principal prioridade recolher e preservar os cantares mais antigos da sua aldeia e tem atuado nos encontros concelhios de Janeiras e Amentar das Almas e noutras localidades para onde tem sido convidado. O aspeto marcante do grupo será sem dúvida a sabedoria popular dos elementos mais velhos que a cada ensaio lembram mais uma canção ou uma história digna de registo.

As Janeiras e Reis são alegrias do povo cristão fora da Igreja pelo nascimento do Menino Jesus, transmitindo essa mensagem em cada lar. Os cantares de Janeiras e Reis que apresentamos são genuínos da nossa aldeia, já os nossos avós e bisavós os cantavam a capella ou acompanhados por elementos de uma velha tuna que existia antes da Banda, muito marcados pelo Cantochão da Igreja.

O grupo apresenta-se com a luz das lanternas, pois só nos anos 50 a eletricidade chegou à nossa aldeia, e com o pau das chouriças que por vezes eram oferecidas pelos lavradores mais abastados.