O pão-de-ló e os doces de feira fazem parte da vida de Maria Alcina Ferreira, de 77 anos, desde muito cedo, uma vez que a sua mãe, Maria Lucinda Ferreira, foi uma das mais afamadas doceiras da vila de Vouzela, mantendo esse ritual quase até aos 80 anos. Chegava a cozer 50 pães-de-ló por noite, três noites seguidas, no designado “forno da poia”, alimentado a lenha, e os mais novos iam, na manhã seguinte, entregar às aldeias, mediante os pedidos dos particulares.
Por altura da Páscoa, o aroma de diversas iguarias invadia a casa, uma vez que era uma altura de muitas encomendas. Para facilitar a árdua tarefa – chegavam a ser gastos dez quilos de açúcar –, a sua mãe mandou fazer um batedor de pão-de-ló, que veio substituir a colher de pau no processo de obtenção da massa do bolo.
“Eram trabalhos muito bonitos e honrados. Com o pouco que tínhamos eramos muito felizes, havia entreajuda”, garante.
Neste imaginário, que é comum à vila, não faltavam também cavacas, belindres, beijinhos e o folar, entre outros, que eram depois comercializados na Senhora da Guia, no São Silvestre e nas festas populares das aldeias. “E no fim de vendermos o doce tínhamos sempre um par à nossa espera para ir dar um bailinho”, relembra Maria Alcina Ferreira.