Sendo o único da família a nascer em Vouzela, Gil Silva herdou os epítetos do santo padroeiro do concelho, São Frei Gil, e do herói D. Duarte de Almeida, o Decepado. Tem 74 anos e na sua meninice não faltaram peripécias com foguetões e submarinos de papel e fita adesiva.
Depois de estudar em Viseu, aos 16 começou a trabalhar num banco em Lisboa, na secção dos clientes estrangeiros. Foi neste contexto que conheceu Maria de Jesus Viana, uma senhora emigrada em França, muito humilde, a quem alertou que seria melhor ter mais um titular na conta para ficar com as suas poupanças salvaguardadas. Nessa mesma noite, a emigrante foi ameaçada, pelo namorado da sobrinha, para assinar um cheque em branco mas quando o casal apareceu no banco não conseguiu movimentar o dinheiro porque Gil Silva disse que seriam necessárias duas assinaturas.
Reconhecida, Maria de Jesus Viana tentou agradecer-lhe com uma galinha pedrês. Embora o jovem vouzelense tenha declinado, a senhora não desistiu e regressou à instituição bancária para dar-lhe um fio com um crucifixo que retirou do pescoço.
Desde então, já lá vão 55 anos, que a peça tem acompanhado Gil Silva, “nas boas e nas más ocasiões”. Alturas houve em que se agarrou ao crucifixo para ter inspiração para salvar a própria vida e acredita que foi mesmo o símbolo e a fé que o protegeram.