Agostinho Lajas, de 72 anos, residente em Cambra – Vouzela, remete-nos para a sua meninice, quando a mãe “ia trabalhar para umas pessoas ricas, na Casa do Talho de Tourelhe, sachar milho e tratar de outras coisas do campo”. “À merenda, chamava-me para os acompanhar e tinha sempre esta cabaça”, lembra, notando que, na altura “os miúdos começavam cedo a aprender a beber vinho”.
Era uma vida de esforço, nas lides agrícolas, de sol a sol, por vezes só para comer. Por isso, Agostinho Lajas não esconde o orgulho nesta “mãe que foi pai também”, depois de ter ficado viúva.
Agostinho terminou os estudos e foi para Lisboa trabalhar, uma situação que era bastante comum. “Saíamos da escola e íamos, principalmente, para mercearias e tabernas, e era como se fossemos filhos dessas pessoas. Chamavam-nos galegos”, recorda, realçando que, tirando algumas massas que já eram empacotadas, a maioria dos produtos – açúcar, café, brilhantina, azeite e vinagre, entre outros – se vendia, com algum engenho à mistura, avulso.
Há uns 20 anos, com o falecimento dos donos da Casa do Talho, Agostinho Lajas foi visitar o criado que ficou a tomar conta do edifício e disse-lhe: “Tens aqui uma cabaça que eu bebi por ela”. Quando este lhe disse que podia ficar com ela, não hesitou e guardou-a como a uma relíquia.