A vida de Adélia Almeida, de 74 anos, natural de Nespereira – Pinheiro de Lafões – Oliveira de Frades, “dava uma história”. Com 17 anos foi para Angola, para trabalhar no comércio de uma prima que não tinha filhos, onde vendia carvão, óleo de palma e farinha de fubá; e aí permaneceu até ter conhecido o marido.
O despontar do 25 de abril de 74 obrigou a que tivessem de fugir “com o que tinham no corpo”.
“Não fomos muito bem recebidos, pois as pessoas acharam que vínhamos roubar-lhes o trabalho, mas só queríamos fugir da guerra”, recorda.
O casal esteve como caseiro numa fazenda, em Guimarães; mas viria a emigrar para a Venezuela.
O “refúgio” de Adélia Almeida estava, no entanto, em Nespereira, na casa dos pais e que já tinha sido dos avós, e onde também nasceu. Quando herdou o imóvel, com 250 anos, ficou “feliz” e fez questão de o remodelar, dando nova vida àquele espaço “cheio de histórias da família”.
Entre as poucas coisas que o fogo deixou, em 2017, está uma balança antiga. Naquela altura, recorda Adélia Almeida, “cozia-se a broa uma vez por semana, uma para cada dia”. Às vezes, quando não chegava, pedia-se emprestada e era preciso pesar, para depois se devolver a mesma quantia. “É uma relíquia que tenho”, regozija-se.