António Alexandrino cresceu numa família com “uma vida modesta” no meio rural, onde os seus pais tinham uma casa agrícola “muito forte” tendo em conta a realidade da época, em que o trabalho, sobretudo para as raparigas, era compensado a troco de alimentação.

Após a escola primária, esteve sete anos no seminário em Fornos de Algodres, que era a forma “de alguns jovens poderem fazer uma visita intelectual mais aconchegante”. Quando pediu dispensa à instituição, foi para o Colégio de Santo Agostinho, o Liceu de Viseu e depois para a Universidade de Coimbra, um caminho que apenas quatro por cento da população seguia. Entre o convívio na Associação Académica e a passagem na Tuna, era bom aluno, com provas dadas também a nível desportivo.

Seguiram-se o Curso de Oficiais Milicianos, em Mafra, e 42 meses de tropa, que lhe deram “a visão de muita coisa”, paralelamente com a docência no liceu.

Surgiu, então, o convite para fazer parte da Direção da Escola Preparatória de Vouzela.

É neste período que se dá o 25 de abril, acontecimento que lhe é comunicado por Fernando Caiado, após ter tido informação pela rádio. “O regime do Estado Novo estava de gatas, não havia mais nada a esperar dali”, nota, salientando que “alguma coisa estava a mudar, de uma forma drástica e sem apelo nem agravo”.

Através de um contato de gente do PCP, nomeadamente António Bica, António Alexandrino recebe a proposta para ir para a Comissão Administrativa da Câmara de Vouzela. Ao seu lado ficaram José Mendes da Silva e Teresa Figueiredo. Foi ainda escolhido, numa reunião pública em frente ao edifício que hoje acolhe a autarquia e que juntou muita gente, um lote de pessoas para assumiu a gestão das juntas de freguesia.

“Houve várias reuniões a nível de Vouzela, de São Pedro do Sul e nós estávamos no terreno. Viemos para o RI14 conhecer quem eram os militares, o MFA que estava por trás de tudo isto”, recorda, falando de uma caminhada com muitas peripécias pelo meio, em que, no campo político e militar, “já ninguém segurava nada nem ninguém”.

Para o responsável, este foi “o melhor tempo” que viveu do ponto de vista político, com reuniões quase todos os dias e a cave da Pensão Marques a receber a maior parte dos encontros.

A sua ligação ao Movimento Democrático Português / Comissão Democrática Eleitoral e ao PCP, os melhoramentos alcançados em termos de mobilidade, a melhoria da vida nas aldeias, os investimentos em infraestruturas desportivas e as primeiras eleições locais e nacionais fazem também parte das memórias que partilha.