Após uma infância bonita e ter frequentado a escola, aos 11 anos, Fernando Duarte começou a trabalhar numa fábrica de vidro, onde viria a ficar até 1984.
No 25 de abril de 1974, como era habitual, apanhou o transporte fluvial, devidamente fardado, para ir para o serviço de condutor dos Comandos na Amadora. Ao chegar ao Terreiro do Paço, no entanto, deparou-se com um cenário diferente, com muitos soldados armados e chaimites. Até que um alferes o interpelou e alertou para o perigo que corria, dizendo-lhe para voltar para casa. “Há uma revolução e não sabemos o que vai acontecer”, preveniu, avisando-o para colocar-se à civil.
Não dispondo de muita informação sobre política, só mais tarde compreendeu melhor o que estava a passar-se no país. “Senti primeiro uma frustração porque os seus camaradas estavam a fazer uma revolução e não os podia ajudar”, recorda, falando ainda do medo que sentiu no Terreiro do Paço, de onde era possível vislumbrar uma corveta que, viria a saber, estava pronta a disparar para terminar com a revolução.
Chegado a casa, ficou atento à emissão radiofónica, tendo sempre presentes as preocupações da mãe caso fosse chamado para a guerra. Treinado para “matar ou morrer”, estava mobilizado para Angola, mas com a frase “Nem mais um soldado para as colónias” escrita nas paredes, pensou que já não iria ser mobilizado. Na noite de 30 para 31 de maio, no entanto, viria a receber, em casa, a visita de dois oficiais, com ordem de prisão por não se ter apresentado. Embarcou com outros 200 homens e, oito horas e meia depois, aterraram em Luanda.
Em Angola, Fernando Duarte foi condutor no Agrupamento de Transmissões e, mais tarde, da Engenharia. O aparecimento dos partidos, a guerra civil, os ataques entre musseques e a chegada do correio às tropas lusas, anunciada pelo toque do corneteiro, fazem parte das suas memórias. As madrinhas de guerra, recorda, tinham um papel importante para as companhias, pois faziam chegar os ‘Santos Antónios’ que ajudavam ao convívio e a passar o tempo.
Para o responsável, o 25 de abril trouxe facilidades, mesmo para os militares nas colónias, que beneficiavam da liberdade de contar nas cartas o que se passava no Ultramar.
Fernando Duarte regressou, são e salvo, no último avião da “tropa macaca” de Angola para Portugal e foi conhecer as suas madrinhas de guerra, agradecendo o apoio que recebeu naquele período e começou uma nova vida que, curiosamente, ficaria para sempre ligada ao período que passou no Ultramar.