A juventude de Carlos Rodrigues foi partilhada entre Lafões e Lisboa, onde tinha familiares ligados à oposição ao regime. Em 1971, com 21 anos, enveredou pela vida militar, e, “sendo jovem e alguém que tinha orgulho em ser português”, entendeu que a sua “missão era embarcar”. Um ano depois, com os ideais de esquerda presentes, foi para Moçambique, onde as notícias chegavam pelos jornais nacionais, “alguns em surdina”. O Notícias de Vouzela, substituído em julho de 1974 pelo Vouga Livre, quando passou a ter intervenção política, “era devorado de fio a pavio”, trazendo a informação de toda a região e “a carta de família”. Com a noção de que “não podia dizer tudo, devido à censura”, Carlos Rodrigues era Correspondente do periódico e contribuía com trabalhos a defesa do comboio na região.
Apesar de cumprirem com zelo as missões militares, as músicas de Zeca Afonso contribuíam para a formatação dos graduados que o acompanhavam. A si cabia-lhe a função de fazer, entre Moatize e Mutarara, a segurança ao comboio, que fazia o transporte de pessoas e mercadorias importantes, e a prevenção de bombas “dos turras”.
Curiosamente, “não teve 25 de abril”. Este “foi um dia perfeitamente normal”. Só no dia 26 se soube “que tinha havido qualquer coisa em Lisboa”.
Seguindo as linhas defendidas pelo Movimento das Forças Armadas – Democratizar, Descolonizar e Desenvolver – tem início a descolonização, um processo que Carlos Rodrigues considera que “não foi limpo, transparente, calmo, seguro e ponderado”, obrigando “cerca de um milhão de portugueses a vir a correr, aos trambolhões para o continente” e resultando em contendas internas.
Carlos Rodrigues regressou em outubro, numa época em que já havia contatos com os militares da Frelimo e patrulhas conjuntas.
“Já depois do 25 de abril, tornei-me filho e irmão de um país pequeno europeu. Com o pedido de adesão em 1977, senti que estava no meu lugar”, defende. Apesar dos “excessos”, com “a tentativa de controlo dos novos valores, forças e partidos políticos que se queriam constituir donos absolutos”, o responsável destaca que “a sociedade civil começou a mexer”, tendo despontado associações, recintos desportivos e ranchos folclóricos.
O poder local autárquico, que considera “uma das grandes conquistas” da democracia, a liberdade de imprensa e o acesso de todas as pessoas à escola foram outros dos aspetos positivos que a revolução trouxe.
Tendo em conta que “o vazio é devastador”, surgem as Comissões Administrativas para assumir as Câmaras Municipais. Em Vouzela, a mesma foi assumida por António Alexandrino; em São Pedro do Sul avançou Jaime Gralheiro; e António Cândido Moreira liderou em Oliveira de Frades. Com as manifestações que se seguiram, em 75, foi nomeada nova comissão em Vouzela, liderada por José Francisco, José Mendes e Cândido Simões do Amaral.
Um ano depois, realizaram-se as primeiras eleições para as Câmaras e Juntas de Freguesia, que “foram uma festa autêntica”. Augusto Rodrigues Guimarães (PPD/PSD) foi o primeiro Presidente eleito, “um homem de uma retidão e dignidade total”, com quem Carlos Rodrigues, cabeça de lista pelo PS para a Assembleia Municipal, trabalhou na oposição. Em Oliveira de Frades, a edilidade foi assumida por Manuel Silva e Almeida, enquanto em São Pedro do Sul, os destinos da autarquia foram conduzidos por Carlos Alberto Tavares (CDS).