Alberto Correia nasceu e cresceu, até aos 14 anos, em Águeda, num período “difícil”, em plena II Guerra Mundial, em que os bens alimentares eram racionados em longas filas e se passava fome em Portugal.
Aos 11 anos, saiu da escola e começou a trabalhar numa gráfica perto de casa, a Tipografia Aguedense. Três anos depois, surgiu o convite para ir trabalhar para a Gráfica do Caramulo, onde ficou cinco anos e onde chegou ainda a ser detido pelas autoridades, que queriam saber “quem era o autor de determinado artigo” do Ecos da Serra.
Após o percurso militar, “uns senhores de Vouzela” convidaram-no para vir para a vila, onde “foi muito bem recebido”. A sua missão foi “durante anos e anos, letra a letra, caracter a caracter” fazer o Notícias de Vouzela. A Gráfica Vouzelense deu os primeiros passos no edifício da Farmácia Teixeira, até ser mudada para o Largo do Convento, em espaço próprio, e chegou a ter nove empregados.
O tipógrafo era, conforme explica, uma pessoa com acesso a conhecimentos privilegiados, mas “também mais atingida” pela PIDE, que vinha a Vouzela muitas vezes. A este propósito, presta homenagem “ao GNR que o avisava sempre” antes das visitas.
Ainda assim, Alberto Correia diz: “Nunca perdoei à União Nacional a censura nos jornais. Custava dias e dias a compor, letra a letra, e chegar aquilo à Censura e ser censurado. Era uma tristeza”. Este foi também o mote para uma conversa que, certo dia, teve com um jornalista, que lhe disse: “Avance sempre. Eles para cortar lêem. E o que interessa é que eles leiam”.
Era uma época “difícil”, mas, garante, “eles também levaram muitas”.
É com orgulho que lembra aqueles tempos. “Trabalhávamos seriamente e as pessoas começaram a saber que se podia contar com a gráfica. Tínhamos clientes de norte a sul”, recorda.
Neste contexto, surge o 25 de abril de 1974, “bem recebido em Vouzela”. Alberto Correia passou o dia a trabalhar, “mas com uma alegria muito grande”. Nunca esqueceu a frase da sua esposa, que diz tudo: “Já posso dormir descansada”.
“É uma data histórica, que me marca bastante. A mim e a muitos outros. Lutávamos contra a guerra colonial, pois víamos as pessoas a aparecerem com caixões que vinham com pedras em vez de corpos”, conta.
Aos primeiros momentos da revolução seguiram-se os discursos, numa Alameda cheia, para ouvir o Dr. Telmo Figueiredo, António Bica e o Professor Alexandrino, além de si próprio.
“Houve depois alguns exageros”, acrescenta o responsável, notando que “em 1975, as coisas foram más”.
Com a estabilidade, veio o progresso e Vouzela, que estava muito fechada, “começou a progredir e a mexer”.
Fiel aos seus ideais, Alberto Correia desempenhou também funções autárquicas, integrou o movimento popular que dividiu a ‘vila de cá’ e a ‘vila de lá’, e foi homenageado pelo papel que desempenhou aquando do 25 de abril.