Os primeiros anos de vida de Luísa Oliveira foram vividos em diferentes locais, condicionados pela colocação do pai, que trabalhava no Tribunal. Já os quatro anos da escola primária foram passados em Castro Daire, período dividido com a casa dos avós, em São Pedro do Sul, aos fins-de-semana. As brincadeiras incluíam a patela, o prego, bonecas e jogar à bola.

A docente fala de uma infância rigorosa, com algumas privações e em que os doces eram deixados para épocas muito próprias, mas também feliz. E embora os bens materiais não abundassem, diz que teve “o mais importante: a educação, o carinho e o amor.

Na escola – que era separada por um muro para rapazes e raparigas – usava-se bata branca e a entrada para a sala de aula fazia-se em fila indiana. Ainda em pé, cantava-se o Hino Nacional, rezava-se o Pai-nosso e repetia o grito: “Salazar, Salazar, Salazar”.

Os conteúdos eram escritos na lousa, até se passar para as canetas de tinta permanente, e os manuais faziam a apologia ao Estado Novo.

Luísa Oliveira recorda que teve uma professora primária “mais humana” para a época, mas que havia regras a cumprir. E o ambiente era ainda mais rigoroso com as visitas do Inspetor, como aconteceu no dia em que fez o exame da 4ª classe, em que foi aprovada com distinção.

Em casa, recorda a figura do pai, “um resistente antifascista”, e os comentários dos adultos, em surdina, à forma como se vivia, além das saídas “talvez para reuniões secretas já numa perspetiva de oposição”.

O 25 de abril, no entanto, viria a ser diferente. “Hoje não vamos trabalhar, deu-se uma revolução e vamos ver em quê que isto vai dar”, recorda-se de o pai dizer, seguindo-se palavras soltas como “acabou a ditadura, conseguimos!”.

Embora o pai tenha continuado a trabalhar em Castro Daire, a residência da família mudou para São Pedro do Sul, e os seus 5º e 6º anos já foram abrangidos por um novo sistema de ensino, com turmas mistas e muita liberdade. “Parecia que tudo era possível”, regozija-se, destacando a mudança na convivência entre professores e alunose os programas curriculares diferentes.

Com 9 anos, Luísa Oliveira já andava no teatro, no Cénico, onde, às escondidas, era ensaiada “Arraia miúda”, de Jaime Gralheiro, que evocava a revolução popular de 1383. A peça viria a estrear após a revolução.

“O 25 de abril diz-me muito, talvez por herança familiar”, diz, lembrando que viveu muito este período com os pais, “em comícios e em manifestações” e que conviveu “sempre muito com um conjunto de pessoas que eram acérrimas defensoras da liberdade de expressão e da qualidade de vida das pessoas”.

Atualmente, como professora de História, faz questão de transmitir os conhecimentos aos seus alunos e fala dos factos deste período de Portugal, dando-lhes a oportunidade de tirarem as suas próprias conclusões. Como homens do amanhã, devem estar preparados, se for necessário, para saberem lutar pela liberdade que têm”, pela democracia e pela igualdade entre as pessoas, defende Luísa Oliveira.