No seio de uma família de sete irmãos onde se lia muito e com uma mãe com a “mente muito aberta”, Maria Eulália Teixeira nasceu em Cujó – Castro Daire. Os pais acompanhavam a BBC e uma outra rádio do norte de África e era comum receberem, à noite, em casa, pessoas que pretendiam saber quais os militares que tinham falecido na guerra. “Havia conversas entre adultos que perante a nossa presença terminavam. Havia coisas que não eram para nós conhecermos ou para nós sabermos”, constata.
Na sua memória estão também os funerais de militares da aldeia que faleceram nas colónias. “Recordo-me que a professora pediu para todos irmos com bata branca e a professora foi vestida de preto. Ela tinha um noivo também a combater e tenho a imagem da minha mãe a fazer ramos de florinhas e a atar com fitas de seda para levar naquele funeral. Enquanto criança, para mim foi um espetáculo deprimente, com lágrimas nos rostos e rostos com lágrimas escondidos com a capucha”, retrata.
Comum era também a passagem dos militares em treino no quartel de Lamego, que encontravam em Cujó o apoio dos habitantes. Como os pais de Eulália Teixeira tinham uma taberna, havia sempre um pote de sopa cheio e uma fogueira para se aquecerem.
Mais tarde, dado que o acesso à aldeia era em terra batida e não havia transporte regular, ficou com as irmãs alojada em Castro Daire, em casa de uma senhora e ao fim-de-semana iam à terra. Já os irmãos foram para o seminário.
Foi neste período, no ciclo, que se dá o 25 de abril. “No recreio começaram a dizer “Houve uma revolução em Lisboa”. Mas as aulas correram normalmente, apesar de o rosto dos professores estar mais sério, preocupado. Havia qualquer coisa que nos escapava”, conta. Mais tarde, pela televisão, as notícias davam conta de que “uma Junta de Salvação tomou conta do poder e que em breve haveria mais notícias” e de “vários países a darem os parabéns a Portugal”. Nessa noite, houve foguetes no Calvário.
Já no 7º ano, na Escola António Serrado, recorda-se de os militares do MFA interromperem as aulas para reuniões gerais de alunos e, no “calor da revolução”, haver alguns exageros, por exemplo nas queixas contra docentes. Entre as suas lembranças está ainda o anúncio da visita de Mário Soares a Castro Daire. E, embora o professor não quisesse que a turma participasse e a tenha fechado na sala, os jovens saltaram pela janela.
Em 76/77, Eulália Teixeira nota que se deu “um grande salto”, com a vinda de muito mais alunos para as escolas, a melhoria das condições de vida e a criação de novas rotas de autocarros.
Após um ano propedêutico, com aulas a partir de emissões televisivas em diferido, foi para Coimbra, em 1981, ano em que a luz elétrica chegou à sua aldeia. Terá, porventura, com a integração na lista para a Associação de Estudantes do ISEC, começado aqui a sua intervenção cívica e depois política, que a levou a Vereadora e Presidente da Câmara de Castro Daire e da Assembleia Municipal.
Pela sua experiência, defende que “maior e mais diversificada” for a contribuição de todos, mais ganha a comunidade.