Filho de “gente pobre”, Delfim Rocha nasceu em Mamouros, no seio de uma família de cinco irmãos que sobrevivia da agricultura, com terras de renda, cuja metade dos rendimentos era entregue ao senhorio. A distância até à escola, que funcionava por cima de uma loja e onde as mãos gelavam com o frio, era percorrida descalço. “Fomos batizados contra tudo”, brinca.
Estudou até à quarta classe e a professora e o padre, as pessoas mais influentes da aldeia, diziam que devia seguir um percurso sacerdotal, o que o levou até ao Seminário de Fornos de Algodres, que abandonou pelos custos que implicava.
Face às dificuldades, e acreditando “no destino”, alistou-se voluntariamente para a tropa, em 1965, ano em que a eletricidade chegou a Mamouros. Garante que os 38 meses que ali passou, como telefonista de engenharia, foram “o melhor tempo” e “a melhor escola” da sua vida.
No regresso, empregou-se num armazém de mercearias, em Viseu, e comprou e vendeu um carro de praça, em Castro Daire, até ir de salto para França. Como conseguiu regularizar a situação, arranjou contrato para a Alemanha, onde tinha melhores condições.
Voltando a Portugal, estabeleceu-se por conta própria numa taberna em Abraveses, onde estava quando despontou o 25 de abril. Quando passou o negócio, regressou às raízes e nas primeiras eleições autárquicas, em dezembro de 1976, foi convidado por “duas pessoas amigas” para se candidatar à Junta de Freguesia de Mamouros, pelo PPD. Aos 31 anos, e embora dissesse que não percebia nada de política, ganhou.
A sua preocupação mais imediata foi criar condições, com ruas asfaltadas, para as pessoas poderem caminhar com dignidade no meio das povoações.
“A partir daí tudo começou a normalizar porque as pessoas que foram eleitas – e estou a falar pela minha freguesia, não sei se nas outras também aconteceu a mesma coisa – tinham outra postura, outra forma de encarar os problemas, etc. A partir daí, começaram-se a fazer obras nas localidades, que as pessoas bem precisavam. Elas próprias começaram a dar valor à democracia”, realça.
Delfim Rocha esteve 22 anos como Presidente, quatro como secretário e mais um na Assembleia de Freguesia. E embora faça um balanço positivo do caminho percorrido em liberdade e democracia, considera que “se calhar podíamos estar melhor”, nomeadamente em áreas como a Saúde e a Educação.