Alva, em Castro Daire, era uma aldeia repleta de gente antes da vaga de emigração para o Brasil e da saída dos “obrigatórios” para África, que iam com carta de chamada. Sem indústria, vivia-se da agricultura, e cada casal tinha pelo menos uma junta de vacas e algumas ovelhas.  Uma sardinha, que era devidamente apregoada à porta dos fregueses, era “para três” e no tempo mais frio matava-se o porco que tinha que dar para todo o ano.

“Vivia-se mal”, recorda António Almeida, acrescentando que só quando veio a exploração da resina as condições de vida melhoraram.

A freguesia de Alva foi, no entanto, das primeiras a ter eletricidade no concelho, sendo a sua inauguração assinalada, de forma solene, com a presença do ministro Arantes de Oliveira, em 1960.

Alguns anos depois, foi mobilizado para Angola e não teve coragem de contar à mãe e aos irmãos. Souberam alguns poucos familiares e, por coincidência, aquela que viria a ser sua esposa.

Ainda em Portugal, uma crise de rins levou-o ao hospital, onde via chegar muitos dos mutilados da guerra e se comentava que ‘fulano’, “degradado de tal maneira”, não voltou porque se atirou ao mar na viagem. Devido a um lapso, António Almeida foi considerado desertor e detido, tendo seguido, ainda doente, para o Ultramar.

Preocupava-o se iria regressar vivo ou com capacidade de contrair matrimónio e dominava-o a ansiedade de vir abraçar a mãe e o avô.

“Era doloroso para quem ia e para quem ficava”, sublinha, recordando histórias impactantes dos tempos passados na guerra e as consequências para os militares e para as suas famílias. Conforme nota, Portugal “era um país amordaçado, como Mário Soares escreveu” e muitas polémicas e informações, como os falecimentos dos militares, só chegavam pelas rádios internacionais, como a Voz da Liberdade, de Argel. “Eram temas que não podiam ser abordados publicamente, sob pena de ameaça de prisão. Não havia liberdade de expressão”, lembra. O 25 de abril de 1974 foi, assim, “um hino a Portugal e à liberdade” e uma alegria para o povo, embora depois surgissem contrariedades.

Seguiram-se as comissões administrativas nas freguesias, tendo António Almeida sido convidado a integrar a de Alva, com José Correia Figueiredo e Américo Almeida. O responsável viria a desistir em prol da nomeação de alguém de Souto de Alva, no caso Eduardo “Ferreiro”.

É neste período que assiste também às sessões de esclarecimento dos partidos, tendo-se identificado com o Partido Socialista, considerando que “não escolheu mal”.

Nas primeiras eleições livres, foi eleito Presidente da Assembleia de Freguesia e mais tarde assumiu o lugar de Secretário da Junta, cargos que conciliou com a sua profissão de condutor de autocarros.

Seguiram-se tempos mais serenos, “sem escaramuças”, com a vida a retomar a sua normalidade.

Hoje, fazendo um balanço da situação do país, não tem dificuldade em identificar várias lacunas, nomeadamente a corrupção, a violência, a inoperância da justiça e problemas na saúde.