“Novas Expressões do Território” é uma exposição audiovisual concebida pela Binaural Nodar em 2019 para a Programação Cultural em Rede da Comunidade Intermunicipal de Viseu Dão Lafões, a qual partiu de um conjunto de criações artísticas realizadas a partir de recolhas efetuadas em paisagens e junto de comunidades dos referidos catorze municípios da região, fluindo temáticas e narrativas que propõem dimensões poéticas, não literais, do património cultural local.
NOSSA SENHORA DOS VERDES
Forninhos, Aguiar da Beira
Nossa Senhora dos Verdes
Forninhos, Aguiar da Beira
Terra do planalto beirão,
Na tripla fronteira entre os concelhos de Aguiar da Beira, Fornos de Algodres e Penalva do Castelo.
Nossa Senhora dos Verdes
Que perfeito nome para uma das tantas declinações da mesma mãe de Jesus.
Num suave alto no meio de um bosque rodeado de campos
Ergue-se uma anónima capela, pontilhada por cruzes devocionais e por bancos e mesas de apoio aos romeiros.
Entramos, não há eletricidade, duas perenes velas acesas e a comunidade de santos pintados no teto por idas mãos inocentes.
Tudo respira contenção, nem um toque de exagero, nem mesmo as cores que enchem o teto.
Nossa Senhora dos Verdes,
do centeio ao vento, das vides do bom vinho, das hortas e de tudo o que nasce para o proveito das gentes.
Essa Nossa Senhora que fez o milagre de impedir que as searas fossem destruídas por uma praga de gafanhotos, lá no ido ano de 1720.
Estes gafanhotos que assustavam as gentes rurais mostram como os medos atravessam o curso do tempo.
“Pela oitava vez o Senhor tocou no povo egípcio a fim de fazer justiça e libertar seu povo;
enviou um vento que passou seguido de inúmeros gafanhotos
devorando muito do que possuía o faraó.”
A quinze de agosto,
romeiros vindos das terras de Forninhos, da Matela, de Valagotes, da Matança, de Dornelas e até de Esmolfe e de Pena Verde.
Antes vinham a pé, com carros de vacas carregados com os símbolos auspiciosos da terra.
Agora vêm todos de tractor
o que está certo, a bem do simbólico que também se transmuta.
A quinze de agosto, uma romaria com gente.
A mesma gente que depois de aquecer a alma, trata do corpo.
Farta merenda, vinho a rodos, que o Dão passa mesmo aqui ao lado.
e, dizem-nos, como remate prosaico, que antigamente festa não era festa se não houvesse pancadaria com a rapaziada das aldeias vizinhas.
Assim seja.
Esta boa gente tem o direito de celebrar num único dia toda a história do mundo.
Ficha Técnica
Conceito original: Luís Costa
Registos sonoros e vídeo originais de Luís Costa, Manuela Barile, João Farelo, Liliana Silva e Rui Costa
Edição vídeo: Liliana Silva
Edição sonora, textos e voz: Luís Costa
Concepção do percurso expositivo: Luís Costa e Liliana Silva
Ilustrações: Liliana Silva
Produção executiva: Diana Silva