“Novas Expressões do Território” é uma exposição audiovisual concebida pela Binaural Nodar em 2019 para a Programação Cultural em Rede da Comunidade Intermunicipal de Viseu Dão Lafões, a qual partiu de um conjunto de criações artísticas realizadas a partir de recolhas efetuadas em paisagens e junto de comunidades dos referidos catorze municípios da região, fluindo temáticas e narrativas que propõem dimensões poéticas, não literais, do património cultural local.

ESSA OUTRORA VILA DO LADÁRIO
Ladário, Sátão

Percorrendo a Beira Alta não é de todo raro encontrarem-se pelourinhos em pequenas povoações.
Habituamo-nos à sua presença, são monumentos assinalados e pouco mais do que isso.
Um desses pelourinhos evocado de egrégias glórias é o do Ladário, no município do Satão.

Numa tarde de início de agosto, o remanso do Ladário é impressionante
Passam gatos, correm miúdos, sentam-se namorados, cantam os grilos.
E eis que nos deparamos com esse monumento tão particular, de uma altivez ancestral.

E nesse momento a dissonância entre o Ladário de hoje e do passado é absoluta.
Sim, esse Ladário ao qual em 1125 foi concedida carta de couto por Teresa de Leão a seu filho D. Afonso Henriques.
Por sua vez, o couto passou para o domínio do Convento de Águas Santas para os lados da Maia, imaginem só.

Passaram os séculos e o Ladário era freguesia, vila e sede de concelho,
uma autêntica potência económica da região de Viseu

O bom pároco local lembrava em 1758:

Esta villa hé de El Rei.
Tem vesinhos trinta e cinco e pessoas cento e quatro.
Está situada em campina donde se descobre a serra de Estrella em distancia de seis legoas, a villa de Mangoalde em distancia de legoa e meia, a de Castendo de huma legoa, e varias povoaçoens mais que a huma e outra villa pertencem.
O seu orago hé O Salvador do Mundo.
Tem três altares, o principal com huma imagem da parte do Evangelho do Salvador, e da parte da Epistola outro de Sam Barnabé, o colatral da parte do Evangelho hé de Nossa Senhora do Rosario, e o colatral da parte da Epistola de Santo Antonio.

À igreja matriz desta villa acode em o dia de Sam Barnabé aos honze do mês de Junho os concelhos circumvezinhos, vindo as cameras
nelles imcorporadas com os seus parochos e cruses de suas igrejas, fasendo destintas procissoens com Ladainhas ao mesmo santo, os quais são o de Rio de Moinhos com a sua parochia, o de Povolide com a sua parochia, o de Ferreira de Aves com as três parochias que dentro em sim comprehende, o de Gulfar com as suas quatro freguezias que dentro em sim tem, o de Sattam com as suas três freguezias que dentro em si emserra, o de Penalva com as suas dose freguezias que comprehende.
Não se sabe o principio que estas romages ou deprecaçoens
tiveram e somente algumas vox vaga há de que se prometeram por necessidades particulares dos mesmos povos.

Esta villa hé cabeça em sim própria.
Noutras palavras, esta vila sempre soube ser o que quis ser.
Mesmo no seu descenso até ao anonimato atual.

Ficha Técnica
Conceito original: Luís Costa
Registos sonoros e vídeo originais de Luís Costa, Manuela Barile, João Farelo, Liliana Silva e Rui Costa
Edição vídeo: Liliana Silva
Edição sonora, textos e voz: Luís Costa
Concepção do percurso expositivo: Luís Costa e Liliana Silva
Ilustrações: Liliana Silva
Produção executiva: Diana Silva