O nosso sentido de identidade, do que somos e do que fizemos, está ligado à nossa vida de memórias. No entanto, uma memória vívida e detalhada pode estar baseada numa reconstrução imprecisa dos factos, em impressões auto-construídas que aparentam ter realmente acontecido. A continuidade da memória não constitui uma garantia de verdade; A descontinuidade da memória não constitui uma garantia de falsidade. A memória é aceite como sendo um fenómeno reconstruído, pelo que pode ser fortemente influenciada por expectativas, por emoções, pelas crenças implícitas de outros, por interpretações inapropriadas, ou resultados desejados. Estará a medida de uma vida bem vivida na qualidade das memórias?

E o que dizer da memória perdida? De um trauma que força a memória a mecanismos de repressão, de dissociação, ou a memórias falsas…. memórias inventadas tomadas como verdadeiras devido a hiatos na própria memória.

“Over The Eyes”, inspirado num ditado antigo… “Afastar a lã dos olhos”, é uma instalação multimedia proposta para ser realizada em Outubro de 2007 numa residência situada em Nodar, Portugal.

A minha intenção é de criar um ambiente que, utilizando todos os meus sentidos, provoque o espectador numa reflexão e contemplação sobre o mistério da memória. Uma das indústrias de Nodar é a da lã. Conversarei com habitantes locais sobre o processo de tosquia e de tecelagem da lã, gravando essas conversas, as quais serão incorporadas no desenho de som da instalação, em paralelo com gravações de campo da região e com textos sobre aspectos fisiológicos, psicológicos e biológicos da criação e destruição da memória em seres humanos. Em relação ao ambiente, comprarei lã local com a qual tecerei e criarei uma estrutura de “matéria cinzenta”, como são as nossas mentes.

Ao longo destas passagens serão projectadas imagens de vídeos caseiros encontrados, “memórias” supérfluas gravadas e encontradas em lojas de conveniência e lixeiras, metodicamente apagadas por um acto sobreimposto de tosquia.

Espero que o projecto resulte num pensamento auto-reflexivo e auto-crítico acerca da nossa identidade. O trabalho final será apresentado na forma de uma exposição multimédia. A documentação vídeo das minhas performances constituirá a maioria da peça exibida. Apresentarei ainda fotografias dos locais onde apresentei as minhas interacções, as quais serão acompanhadas de peças sonoras.

Maile Colbert (USA) é uma artista sonora e vídeo que actualmente trabalha em Los Angeles, Califórnia. É graduada pelo Studio for Interrelated Media do Massachusetts College of Art, e pós-graduada em Integrated Media/Film and Video pelo California Institute of the Arts. Os seus trabalhos foram já apresentados e exibidos em múltiplos locais e eventos como o The New York Film Festival, LACE Gallery, MOMA New York, Los Angeles County Museum of Art, the REDCAT Theater in Los Angeles, The Portland International Documentary and Experimental Film Festival, e numa tournée multimedia de duas semanas pelo Japão.

00:35

[canção]… E hei-de cantar hei-de rir, hei-de ser muito alegre. Hei-de mandar a tristeza para o diabo que a leve.

00:52 Sim senhor vou trabalhar.

02:46 On a book cover, drop a single drop of water. ?????

02:53 Write the book then drop another single drop of water on the same place as the former.

03:04 ? the book again in a different direction the drop will still flow in the prior created stream

03:19 please tell me a story

04:19 A história aconteceu, não sei precisamente quando, eu devia ter entre 7 e 10 anos, aconteceu durante o verão neste preciso sítio, nas margens do rio, não sei se a história aconteceu comigo se com o meu irmão.

04:40 [História] A história é muito simples. Eu e o meu irmão estávamos no rio a nadar e um de nós foi mordido por sanguesugas. E então houve pânico, começámos a gritar e houve nas margens pessoas daqui da aldeia. E então com o gritos imediatamente uma dessas pessoas correu para as vinhas e foi apanhar uvas, que naquela altura em Agosto ainda são muito pequenas, verdes e são muito ácidas.

05:28 [Sanguesugas] As pessoas aqui usam ou usavam as uvas para retirar as sanguesugas, a acidez das uvas faz com que as sanguesugas saltem. Então foi isso que aconteceu, um habitante local imediatamente correu para as vinhas, tirou um cacho de uvas, saltou para a água e pôs  as uvas em cima da minha pele ou da pele do meu irmão.

06:00 E imediatamente as sanguesugas sairam. Depois a sequência do evento a seguir já não me lembro muito bem. O que deve ter acontecido é que nos deve ter retirado para a margem e tudo acabou bem.

06:20 On a book drop a drop of water and make it flow untill…

06:26 My hands on a bridge?  in a winter of 1945 two hours before sunrise, sitting my ? today 2000 miles and more from that spot, turning each one slowly and right sunshine watching the inside of my ? ?? lines from old cuts. seeing the odd ??? from the left ring finger.

06:49 I know they have a history though I cannot remeber where it starts

06:56 Não há outro amor na vida, igual ao amor de mãe.

07:09  Oliveirinha da serra, o vento leva a flor, ó i ó i ó ai só a mim ninguem me leva, ó i ó i ó ai para o pé do meu amor. ó i ó i ó ai só a mim ninguem me leva, ó i ó i ó ai para o pé do meu amor.Depois tem de ser mais compassado. Oliveira árvore ….

08:22 [Memória] A minha memória mais recorrente aqui em Nodar, sempre foi a sensação de querer pertencer a este lugar e não poder. De haver uma separação pelo fato de ter vivido na cidade durante muitos anos, sempre que vinha aqui queria fazer parte deste lugar, ser mais um habitante deste lugar, havia sempre esta sensação que o fato de ter sido criado na cidade, o fato de não ter a experiência rural…

09:21 the fabrics were my mother’s light bulbs like gabardine ??? velvet ??these fabrics differ not only in texture and weeve  and the finess of their ? but the way they pass and reflect light and their ? and most obviously the distance and colour and pattern……

09:44 vinha muito sozinho, vinha para aqui sozinho, pensava nas coisas, nesse sentido sempre foi um sítio muito importante para mim. Mas essa sensação sempre foi muito presente, querer pretencer a este lugar, querer ter memória mais profunda deste lugar, mas não conseguir.

10:20 …. a bright no light bright a flock of blue and a flash of yellow came to order come to passage if whatever came to mind

10:34 memories believe to be reconstructed phenomena. and so can be strongly influenced by expectations

10:42 once owner? other people’s. emotions the implied believes of others, inappropriate  interpretation or desired outcome

10:50 some false memories are former through rehearsal of repetition of an event that has already been confirmed as fantastic

11:03 repeatedly  thought and visualized a person may remember it as if it already occured, a person may remember it as if it actually occured

11:16 wait, did i already say that?

11:28 on a book drop a drop of water and make it flow until the river

12:39 and the myth of the golden flees of the ??? Jason and his band of huguenots  ?? for the golden flees in oreder to place jason on the throne. the story dates ?? century bc and survives in many different forms.

12:57 all existing interpretations greatly post facto, suffering from the very incomplete  knowledge of the culture ???

13:09 disassociation is a physiologic state of condition, certain thought emotions sensations and memories are separated from the rest of the psiqui

13:20 let me tell you the story

13:59 I remember him I scarcely have the right to use this ghostly verb, only one man on earth deserves this right and he his dead

14:06 i remember him ??? flower in his hand looking at it as if no one ever looked that flower

14:11 though they might look from the twilight ed day to the twilight ed night for the whole life long

14:18 i remember i believe the strong delicated fingers the ? who can ? leather

14:25 i remember those hands ? make mate tea

14:42 my first recollection of full noises is quite clear

14:46 i see him at dust sometime in march or February of the year 24

14:54 so it was about science experiment working on memory it cosisted on having a book, water dripping on a book if you would tilt the book the stream would still flow and then if you tilt again the book the stream….

15:32 afterward in the enormous dialogue of that night a learn that they made the firt paragraph of the twenty first chapter of the seventh boof of historia naturallis

15:42 the chapter of this book is memory the last words are

16:24 memories, for 19 years he said he lived like a person in a dream  that scene without hearing forgot everything almost everything

16:31 on falling from a horse he lost consciousness

16:41 when he recovered it the present was almost intolerable it was so rich and bright

16:45 the same was true with the ancient and trivial memories a little later he realizes that he was crippled

16:51 but it scarcely interested him

16:56 he reasoned or felt that inability was a minimum price to pay   and now his perception and his memory was unfalable

17:00 he remember the shapes of the clouds in the ? of the dawn of the 30th of April ….

17:05… recollection …..design of a leather bound book which he had seen all this …

17:11 this recollection were not simple each visual image was link to muscular sensations

17:17 thermal sensations etc

17:21 he could reconstruct all his dreams all his fancies

17:24 two or three times he could reconstruct an entire day

17:26 he told me

17:37 I had no memories and myself alone that all man had had since the world was the world

17:42 and again my dreams were like your visuals, and again towards dawn

17:50 my memories ? like a garbage disposal

18:13 to think is to forget the difference generalize ??

19:22 please tell me a story

19:25 what could i offer you between the salt water history generation cluture and language

19:32 this desire for the sense of your history and ? with story

19:36 sense of my own history

19:39 i feel your age your place romantic

19:41 and what could i give you

19:43 i want to weave myself within your vines staying my memory with the color of your wine

19:51 would you share your story, could this be a mutual gift?

19:55 we ha e lost the sense of a memory deeper and longer than ourselves.

20:01 where are the young in your village? why did i leave the mid sentence

20:59 Depois o cordão é que a gente começa a melgar.(…) o cordão faz -se a largura que nós queremos não é ? acho que não é isto que eu tinha idealizado.

21:10 olha faz-se assim, o cordão a medida que nós quermos fazer. (…)

21:18 As agulhas não prestam.

21:23 Aquelas é que são boas as que têm uma biquinha (…) tem a barbela não é ? é tem a biquinha a gente faz que é um instante.

21:35 Então a gente hoje tem que acabar até à meia noite (…) eu estou aqui até à meia noite (…)

21:42 a mais comprida

21:50 fica grossa. Isto já chega? Stop

22:07 Como ela depois vai juntá-las, Podem ser diferentes não tem problema. Umas podem ser mais largas, outras mais estreitas.

22:19 Faço até acabar o rolo …ainda tem muito para acabar o rolo.

22:27 Essa é boa. não essa não presta.

22:36 Se eu soubesse que era isto tinha vindo com linho e com um bocadinho de renda fazia-se muito mais rápido.

22:43 Mas eles querem lã. Eu pensei que era renda.

22:55 Estava na escola, e também sei trabalhar com ?.

22:57 Eu fazia mais crochet …

22:59 também sei fazer crochet…

23:01 mas fazia mais eu de que …

23:05 a gente agora não tem vagar nenhum não é Cila?

23:08 Não há vagar eu agora não faço nada disso.

23:11 chego à noite é para deitar.

23:18 Olha como ela faz ali o cordão.

23:20 Ah pois é. também sei fazer isso

23:20 É mesmo à americana.

23:25 também sei fazer.. já não me lembrava..faz lá para eu ver. eu sabia fazer esse cordão.

23:33então esse cordão é igual a este. esse é feito de uma maneira diferente. é da maneira como ela sabe fazer

23:38 já não me lembrava. eu também fazia assim o cordão. já nao me lembrava agora de a ver a ela é que vejo que também sabia fazer isso.

23:48 too loose.

23:49 é diferente.

23.55 it has a nicer stitch

23:56 agora é só malha. só laçada, laçada, laçada.

24:19 O que é é que a agulha não passa vês até custa a passar aqui porque é muito grossa.

24:26 É porque era o fio mais grosso não é ?

24:28 Se soubesse que era isto tinha vindo com as minhas.

24:42 não entra

24:47 sai daqui um cachecol, isto é a mesma coisa, é uma tira.

24:56 esta linha é muito grossa.

24:59 mas esta ainda é pior que a tua. ela nem passa nos buracos.

25:04 depois faz-se a malha que se quer

25:06 é só de renda.

NÃO SEI SE É NECESSÁRIO TRANSCREVER ESTA PARTE EM QUE AS SENHORAS FALAM AO MESMO TEMPO.

25:57 Eu era pequenita, não sei a idade que tinha mas era pequenita. Ela punha-se ali a fazer ali a rendita dela, o enxoval, eu sentava-me ao pé dela e começava a fazer, ela ensinava-me.  Foi para aí com 10 anos.

26:08 Eu malha nunca fiz muito – Eu também não – Era mais a renda.

26:14 Eu era rendas e …

26:16 Eu era colchas,  toalhas em renda, linho agora malha fazia menos. Fazia mais renda.

26:28 Tu fazias muita renda Cila que eu lembra-me- Fazia –

26:30 Eu fazia casaquinhos e vestidos para as bonecas.

26:37 A minha irmã era costureira nos armazens do Chiado, alta costura, passagens de modelo, e eu via ela estar a cortar….

26:56 Isto nunca mais sai – se a gente não acaber hoje acaba amanhã (…)

27:06 Isto não é para fazer tudo num dia, então? (…)

27:05 Olá bebé…Samuel! (…) Não aprendas isto – podes aprender que não te faz mal nenhum à barriga.

(…)

28:27 Agora não, agora a gente compra mas era sempre para o lado das ovelhas, fiava, é fiar, torcer (…) e fazíamos as meias que usávamos, era tudo que se fazia, não se comprava meias…

28:48 E a minha mãe? A minha mãe é uma artista ! (…)A minha mãe ainda faz (…)É daquelas tortas com agulhas.

29:09 Tenho aqui umas feitas (…)lá tenho seis e trouxe estas (…)

(…)

29:30 Quando era miúda aprendia a fazer malha andava na escola, e depois ia para o pé das mais velhas ver o que elas estavam a fazer, estavam a fazer camisolas, e eu com dois paus, ia arranjar dois pauzitos, e lá conseguia começar a fazer, metia a maslhas com bocadinhos de lã, andava lá à procura no chão, e lá conseguia, foi assim que aprendi.

28:58 Deus dá dias de graça nós é que damos dinheiro por ele.

30:12 Pois é, não devia ter feito assim… como é que eu devia ter feito? (…)

(…)

30:40 Os miúdos ao princípio quando começam a comer …fazem cara feia – cospem (…)

31:13 Esta agora é uma imitação de bago de arroz (…) esta que eu estou a fazer.

31:20 Você não sabe fazer meia e liga – Sei, meia. – Então esta deve ser liga, eu não vi bem o que está a fazer,

31:30 (…) Uma depois puxa-se duas – E faz uma a direito – Já estou a ver como é que é – Olha vês? Uma, e agora duas (…)

31:50 Não me ajeito com isto – Eu faço assim… puxa – Aqui a dona fez de outra maneira – É como a minha mãe, a minha mãe faz como a Cândida – Assim, Assim, Assim, e vai ficando as malhas aqui dentro – A minha mãe também faz assim – Ah pois é ! – Quer fazer? – Não quero nada (…) Assim também não dá nada – Assim está bem – Vê lá se isto fica bem (…)É uma sim e uma não, uma meia e outra de liga, depois do outro lado faz tudo a direito, tudo liga.

32:49 Para começar, dobra, dupla – (…)

33:00 Eu a outra fiz assim quando comecei …

33:07 É linho, o fuso é que já não presta (…) A minha mãe punha-nos a fiar até aos galos começarem a cantar às 5 da manhã. A gente até deixava cair o fuso, uma vez a minha mãe agarrou-me na roca e mandou para cima do forno. (…)

33:33 Eu fui à Coelheira …eu ia a lis … a mãe do Pedro, eu a fiar roca a a mãe do Pedro a fazer meia. Também foi a Donzília. – E você o que é que foi fazer? – (…)

33:48 Foi quando o Daniel… foi o passeio da escola …fomos apresentar… que eu tenho para fazer as chumbeiras…as revistas era trabalhar, trabalhar.

34:08 Nem se comprava linhas para cozer à mão, era fiada… mas eu sei lá…um preceito de fiar…muito fininho e depois era ? com outro fuso, ainda hoje…

34:23 Ripavam, temos um ripador ainda,

34:29 Em Junho, linho ao punho, arrancava-se metia-se molhadas e metia-se três semanas debaixo de água… Depois que me casei ainda semeámos linho(…) Lá em baixo no Pereirinho (…) Havia uma na minha terra que ela distría o pessoal a brincar (…)

35:15 Os rapazes todos atrás dela (…)

(…)

35:42 Vai deitar comer aos coelhos queres? – Mais vale tirar o leite. – Olha ó Zé, vais lá ó não ? Vai lá está lá o comer por cima dele.

(…)

36:10 It’s old, quantos anos é que tem isso? Esse fuso – Mais de 100 anos – Foi a minha irmã da Pena que me deu, mas eu tinha na minha terra (…) A roca e tudo tem mais de 100 anos.

(…)

37:25…. A gente ouvia as cantigas e aprendia tudo, a gora não , a gente ouve e não fica nada no ouvido (…) mesmo a televisão, poucas coisas nos ficam (…) eu às vezes vou para a cama e vou ler … às vezes prefiro estar a ler um bom livro que a ver televisão.

(…)