Mezio é uma aldeia e antiga freguesia situada no norte do concelho de Castro Daire, fazendo fronteira com os concelhos de Lamego e de Tarouca. É uma terra montemurana por excelência, onde a paisagem agreste é dominada pelas grandes fragas de granito da serrania e por campos pontilhados na paisagem, terras de cultivo e também de pastagem, nomeadamente para o gado ovino e bovino.
A aldeia do Mezio fica situada junto à estrada nacional 2, sendo sobejamente conhecida pelo dinamismo da sua Associação Etnográfica e Social do Montemuro, que surgiu em 1978/79 e foi constituída, formalmente, em 1981, através da iniciativa de uma habitante excecional e incansável, a dona Dolores de Jesus. Na sequência de uma fase de levantamento do património etnográfico e dos usos e costumes, a qual contou com o envolvimento da população local, a associação lançou um projeto integrado de desenvolvimento e de valorização das tradições locais, que reúne um museu etnográfico, uma cooperativa de artesanato, um restaurante típico, um serviço de apoio domiciliário e um rancho folclórico, o Grupo de Cantares, Danças e Arte de Bem Falar do Montemuro – Mezio.
Na comemoração dos seus 25 anos, decidiu a associação local aproveitar o espólio etnográfico de que dispunha e divulgá-lo através do Grupo de Cantares, Danças e Arte de Bem Falar. O grupo fez a sua primeira atuação pública no dia 8 de abril de 2006, precisamente nessa efeméride. Desde essa data, tem cumprido bem a sua missão de dar a conhecer as cantigas, danças, poesias e costumes da sua terra. São diversas as suas atuações: nas festas do Padroeiro do Mezio, S. Miguel; nas festas comunitárias da freguesia; na Mostra Castro Daire e nas Festas do Concelho; em animação termal; em permutas realizadas com outros grupos; no evento organizado pela Casa do Concelho de Castro Daire em Lisboa (Castro Daire Abraça Lisboa); e, em outubro de 2008, no encontro de divulgação cultural no Teatro Ribeiro Conceição, em Lamego, promovido pelo próprio Grupo de Cantares, Danças e Arte de Bem Falar do Montemuro.
Desde o seu nascimento, aposta na fidelidade às tradições que o animam, procurando que os trajes e utensílios
que apresenta sejam cópia dos antigos e confecionados de maneira artesanal, assim como tem tido, também, o cuidado de integrar novos elementos, dando-lhes formação musical, canto e dança, através dos ensaios feitos regularmente. Por meio do canto, da dança e da declamação dá a conhecer a região, as suas gentes e valoriza os que têm escrito sobre o Montemuro.
O Grupo de Cantares, Danças e Arte de Bem Falar do Montemuro – Mezio tem efetuado atuações em diversas zonas do território nacional, incluindo danças, cantares, trajes e poemas das terras montemuranas, tendo começado, em 2010, a organizar o seu festival anual de folclore. De entre as modas mais emblemáticas do grupo contam-se “Por a serra abaixo”, “A farrapeira”, “Troc’ó par”, “Mas num era assim”, “Moda da Carochinha”, “O que anda no meio”, “Meu amor junta a roupa”, “Fui ó mato”, “A flor da amendoeira”, “Namorei a tecedeira”, “Ó Ferreiro”, “São João”, “Amélia Tecedeira”, “Pr’onde foste meu amor” e “Mezio terra serrana”.
CHOR’A A ROLINHA
Cantiga que fala das relações amorosas e aborda também as caraterísticas dos trajes locais.
I
Chor’á rolinha pelo ar além,
Chor’ó meu bém p’los meus carinhos,
Ai amor que bi’dá nossa,
Dar abraços e beijinhos
II
Dar abraços e beijinhos,
Ó ai, amor, que graça tem?
Beijinhos a quem namora,
Abraços a quem quer bem
III
A quem quer bem dorme na rua,
Ó ai, à porta do seu amore,
As pedras são trabeceiro,
E as estrelas cobertores.
IV
As estrelas cobertores,
Ó ai, parece um anjo do céue,
D’e inverno cobre a capucha,
De verão usa chapéu
V
De verão usa chapéu,
Ó ai, que traje de estimare,
Vem aqui pró pé de mim,
Meu amore p’ra t’abracare