Picão é uma das aldeias mais emblemáticas da encosta sul da Serra de Montemuro. “Implantada num amplo esporão aplanado entre os ribeiros da Carvalhosa e da Ermida, a povoação desenvolveu-se no sentido norte-sul, entre as cotas de 900 e 970 metros de altitude” (Nuno Resende, em “Elementos para a história da comunidade de Picão”, integrado no livro “Picão: Natureza, história e memórias do Montemuro”, coordenado por Pilar Dias). Da aldeia tem-se um panorama impressionante, cobrindo o majestoso vale do médio Rio Paiva, a Serra de São Macário (parte do maciço da Gralheira), sendo, muitas vezes, possível divisar ao longe a Serra da Estrela. A aldeia faz atualmente parte da União de Freguesias de Picão e Ermida, sendo que esta povoação da Ermida está situada numa cota bem inferior, já próxima do Rio Paiva, tendo o seu topónimo sido conferido, precisamente, pela ermida românica fundada no século XII pelo monge D. Roberto.
Dada a sua posição geográfica, Picão desenvolveu, historicamente, a agricultura de subsistência e a pastorícia de gado bovino de raça arouquesa, de gado caprino e ovino, tendo vastas zonas de pastagens e de montes baldios adjacentes que conferem uma beleza singular à paisagem. Relacionado com a pastorícia de gado ovino, a aldeia do Picão especializou-se na tecelagem em linho e em lã e na pisoagem de tecidos de lã para produzir o burel das capuchas serranas, existindo na aldeia a Cooperativa de Artesanato Lançadeiras do Picão, que funciona há já várias décadas sem interrupção.
O Rancho Folclórico e Etnográfico de Picão “Alegria do Montemuro” foi fundado em 15 de agosto de 1987 sendo que, pouco tempo depois, entrou numa fase de interregno, devido à emigração de muitos dos seus habitantes, tal como aconteceu em tantas outras povoações da Serra do Montemuro. O rancho folclórico retomou a sua atividade em 1994, ao ser convidado a participar num festival realizado no concelho, não tendo parado até hoje.
É, assumidamente, um rancho folclórico familiar, simples e autêntico, sendo que os seus trajes, alguns deles centenários, foram confecionados localmente em linho, lã e burel. Em algumas das suas atuações, o rancho representa todo o ciclo do linho, com a ajuda de exemplares da planta nas suas várias fases de desenvolvimento e dos instrumentos respetivos. Algumas das modas que o rancho interpreta são: “Maria Augusta”, “A roupa do meu amor”, “Sapato e meia branca”, “Marcha do Picão” e “Siga a rusga”.
A ROUPA DO MEU AMOR
Quando as raparigas se encontravam no tanque para lavar a roupa, lá surgia esta moda
A roupa do meu amor
Não é lavada no rio
É lavada no mar largo
Ai à sombra dum navio
Ai à sombra dum navio
Ai à sombra dum vapor
É lavada no mar largo
A roupa do meu amor
A roupa do meu amor
É lavada sem sabão
É lavada com flores
Fica-lhe o cheiro na mão
Fica-lhe o cheiro na mão
Cravos à beira do tanque
Quem aqui vem p’ra te ver
Já te tem amor bastante