Ribolhense de gema, Maria Helena Guerra, de 81 anos, confessa-se uma bairrista. “Viver em Ribolhos foi sempre muito lindo”, garante, falando de “uma aldeia que pela sua disposição, pelas suas gentes e banhada pelo sol logo pela manhã” marca a diferença.
Outros dos seus aspetos distintivos é a olaria. A este propósito, conta que o setor “começou com os senhores Gabriel e Albino, que vieram de São Martinho de Paus”. Com muita saudade recorda ainda Francisco Luís – casado com a senhora Ana Ferreira, que foi sua ama –, que lhe fez um pucarinho quando nasceu. A estes juntaram-se os três filhos do senhor Gabriel, que seguiram as pisadas do pai: Domingos, António e José Maria Rodrigues.
Embora a olaria não lhe esteja no sangue, habitou-se desde cedo a acompanhar o trabalho dos artesãos e ainda hoje guarda muita loiça por eles feita, desde padelas, talhas, caçoilas e panelos. “Para mim são todos mestres. Todos eles eram uma perfeição”, diz, com orgulho.
O momento de fazer a fornalha também suscitava grande curiosidade. “O senhor Albino tinha a dele, junto a casa. O senhor Domingos tinha uma só para ele também, atrás da grande carvalha de Ribolhos. Onde o senhor Francisco ia cozer nunca me apercebi. Não sei se ia à do Zé Maria e do tio António, que eram irmãos, que ficava junto à estalagem. Era um espetáculo lindíssimo”, recorda.
Maria Helena Guerra não tem dúvidas de que “eram homens muito inteligentes e à frente do seu tempo”.
As famílias também eram chamadas a ajudar nas várias etapas de trabalho do barro, no transporte para cozer, na preparação das lenhas e na realização da fornalha. Por outro lado, a arte era uma fonte de receita. Com as peças guardadas em sacos de linhagem e transportadas no designado “burrinho paneleiro”, os oleiros iam até à feira em Castro Daire e tinham a sua zona própria do concelho para vender.
No seu testemunho, Maria Helena recorda ainda a participação de Ribolhos nos cortejos de oferendas que revertiam para a Misericórdia de Castro Daire, cujo provedor era Pio Cerdeira, amigo da família. Chegavam carros de vacas de todo o concelho para integrarem o cortejo e Ribolhos, sendo uma terra generosa, também aceitou o desafio.
Certo ano, conta, o seu pai “decidiu que havia de ir uma panela para representar a olaria. Ao longo de mais de um mês, com madeira feita à medida, vergada a calor e guarnecida com sacos de cimento colados com grude, a panela foi feita no alpendre de casa. Qual símbolo da aldeia, no bojo ficou eternizada a inscrição Ribolhos.