Filha de Domingos Rodrigues e Maria da Glória Pereira, Maria das Dores Teixeira nasceu em Ribolhos, no seio de uma família com 15 irmãos, dos quais 11 sobreviveram.
O nome do seu pai, tal como o dos tios António e Zé Maria, está gravado no ramo da olaria, arte que herdou do pai, Gabriel, que Maria das Dores não chegou a conhecer. Quando Domingos Rodrigues casou, criou a sua própria oficina, na casa de família, na Rua das Quintãs.
Explica a nossa interlocutora que, em dias mais cinzentos, o pai tinha um quartinho onde trabalhava, que era onde ficava também a mesa de refeições. Porém, quando estava bom tempo, pegava na roda e em todos os paramentos e ia para o terraço.
Na cozinha encontravam-se as tábuas que, a servir de prateleiras, acolhiam a loiça para secar antes de ir a cozer e adquirir a cor tão característica.
“A arte era muito dura. Muito difícil. Mas tinha de ser, para o meu pai criar os filhos”, nota, reconhecendo “era preciso ter umas mãozinhas perfeitas”. Nenhum dos filhos seguiu o ofício.
Ainda assim, assumiram um importante papel a ajudar Domingos Rodrigues. Após a sua extracção nas Termas do Carvalhal e do transporte em carro de vacas até à aldeia, o barro ficava a secar até ser picado numa pia de granito com um rolo de madeira. Era peneirado e amassado até estar pronto a moldar na roda que, assente num torno, era tocada à mão, à velocidade que queria para fazer subir a peça. Não podia faltar o paninho delicado, que enrolava no dedo, o esquinote e a escanavita.
Finda esta etapa, a loiça era transportada “à mão, devagarinho”, até à fornalha, que ficava no cimo da povoação. “O dia de cozer era um dia de muito trabalho para os meus pais mas também alegre para os mais novos. Apanhava-se muito calor”, conta, detalhando alguns pormenores. A peça maior ficava no fundo e ia subindo em pirâmide até às de menor dimensão. Em redor, colocavam-se as cavacas e a caruma, a que se chegava o fogo. Quando o pai via que a madeira já estava em brasa, a esposa juntava-se fetos, que eram secos durante o verão, e os filhos tapavam a fornalha com terra. Concluído o processo, a loiça ficava arrumada na casa dos seus avós até seguir para ser comercializada.
Além de trabalhar de acordo com as encomendas, Domingos Rodrigues fazia panelas para a sopa, caçoilas, assadeiras para o forno e talhas, entre outras. “Toda a gente gostava delas. Ele era muito perfeito e todas as peças eram feitas com muito amor”, recorda Maria das Dores.
Tal como os irmãos, Domingos tinha aldeias específicas onde ia vender a loiça: Ermida, Pesos e Figueiredo de Alva, além da feira de Castro Daire, de 15 em 15 dias. Devido a problemas de saúde, teve de deixar a arte e viria a falecer com 74 anos.