Maria de Lurdes Silva Maravilha nasceu em Colo de Pito, concelho de Castro Daire. Apesar de ter nascido no seio de uma família humilde, diz que sempre teve a sorte de ser bem acolhida por todos.
Segundo conta Lurdes Maravilha existem duas versões para a origem do nome da sua aldeia de Colo de Pito. Apesar de distintas, considera ambas credíveis, por se enquadrarem perfeitamente em aspetos característicos da aldeia. Desde criança, o seu pai contava-lhe a história de que na altura das Invasões Francesas tinha passado por Colo de Pito um senhor Francês chamado Peter, “eu digo que se fosse Francês era Pierre, mas o meu pai sempre me ensinou que era um senhor francês Peter”. Esse senhor, segundo ele, foi acolhido por uma “tetravó do lado da sua avó materna”, “do lado da família dos Gonçalves”. Por ter sido tão bem acolhido, conta que este começou a chamar à sua aldeia de “Colo de Peter”. Não sabe se foi pelo hábito ou por uma simples derivação, mas diz que esta seria uma das versões da origem do nome que foi dado a “Colo de Pito”. A outra versão apontada para o aparecimento deste toponímico, prende-se com o nome que foi dado à colina da aldeia, ou seja, “Colina Pintada”.
Para Lurdes Maravilha, as duas versões fazem sentido, na medida em que a colina fica pintada: “nós nesta altura do ano (maio) podemos ver essa colina toda pintada e como também é uma aldeia muito acolhedora, porque por ali passam muitos peregrinos (a caminho da Senhora da Ouvida)”. “Mas esse Colo de Pito que eu conheço, esse Colo de Peter, ele existe. Continua a existir porque na aldeia as pessoas muito acolhedoras, muito afáveis e, talvez essa seja a razão mais verídica para o que realmente tenha acontecido.”.
Da sua infância recorda a partilha de afetos que existia nos serões à lareira, das histórias que se contavam, de bruxas, lobisomens, etc. Recorda a primeira vez que foi trabalhar sozinha para as vindimas do Douro onde, com apenas 11 anos de idade, ganhou os seus primeiros 210 escudos numa semana.
A Prof. Lurdes Maravilha referiu finalmente o gosto que tem pela escrita e de como o incentivo que recebeu das suas professoras primárias ainda hoje guarda com muito carinho e em sua memória. Conta-nos que tinha o sonho em criança de um dia vir a escrever as letras das músicas para o Festival da Canção que ouvia na rádio: “Porque só tinha a rádio e como também não podia ouvir rádio todos os dias porque se gastavam as pilhas, todos os momentos para mim eram muito importantes”. Até ao 12º ano ganhou todos os prémios de escrita que havia. No entanto, com o percurso académico e com o nascimento das suas filhas, acabou por deixar de ter tempo suficiente para dedicar a esta sua paixão. Retomou o gosto pela escrita muito mais tarde, quando as suas filhas cresceram e, desde então, já escreveu vários livros que dedica sobretudo àquele que diz ser o seu “gosto enraizado” pela cultura etnográfica da sua terra.
Entrevista a Lurdes Maravilha, conduzida por Luís Costa. Captação de imagem e som por Luís Costa a 29 de maio de 2019. Editado por Liliana Silva.