O TERCEIRO RIO
uma viagem imaginária entre águas distantes
Uma obra de Luís Costa
“Irmão, perdoa-me por te incomodar, mas vim pedir-te que me ensines mais uma vez a forma correta de caminhar sobre a superfície da água, pois tenho dificuldade em lembrar-me dela.”
Adaptado de uma lenda sufi em ‘Tales of the Dervishes. Teaching-stories of the Sufi Masters’.
Por me sentir como um ser “entre lugares”, imagino muitas vezes poder saltar, caminhar ou ser rapidamente transportado entre contextos geográficos com uma dimensão afetiva (“este lugar diz-me algo profundo”).
O projeto artístico “O terceiro rio: uma viagem imaginária entre águas distantes”, realizado em dezembro de 2024, explora o papel da investigação artística na abordagem de certas complexidades da atual dialética global/local, centrando-se na memória de contextos fluviais do mundo rural, na esteira de uma pesquisa artística multidisciplinar que utiliza a oralidade, informações históricas e geográficas, paisagens sonoras e textos poéticos sobre a água, para refletir sobre o impacto afetivo de rios e ribeiros de comunidades de duas regiões distintas: a Torrente Bisagno, na província de Génova (Ligúria, Itália) e o vale do rio Paiva, na região portuguesa de Viseu Dão Lafões.
O processo de investigação artística foi realizado nos dois territórios referidos atrás, sendo proposto o conceito de “dual site-specific” para a junção num projeto criativo de duas presenças sociogeográficas que seguiram o mesmo trilho temático (neste caso, as paisagens e comunidades fluviais) e metodológico.
Em termos de processo de trabalho, a criação foi estruturada cruzando quatro dimensões conceptuais:
- O papel das restrições criativas (“creativity constraints”) na definição do contexto de investigação (Onarheim & Biskjaer, 2017).
- Um processo de trabalho de perfil empírico-fenomenológico (experiências sentidas a partir de observações factuais) que propiciou a geração de analogias mentais (De Bono, 1973) e a sua combinação conceptual (“conceptual blending“) num terceiro elemento (“blend“) (Fauconnier & Turner, 1998).
- O uso sistemático de artefactos, documentos ou objetos de fronteira ou de mediação (“boundary objects“) na investigação artística (Star & Griesemer, 1989), particularmente aqueles oriundos dos estudos etnográficos e historiográficos, como mapas, notas de campo, objetos e entrevistas etnográficas. (Martínez, 2021).
- Um processo artístico de composição baseado no conceito de “assemblage” (Delanda, 2016) dos objetos de fronteira referidos em c) e de outros media (sons e imagens em movimento), propondo-se em termos de receção uma “imaginação do vínculo entre lugares”, um exercício de especulação criativa com potencial de revelação de ligações ou de contrastes inesperados que possam ser culturalmente relevantes.
Obra coproduzida por Studio Florìda (Génova, Itália) e por Binaural Nodar (Viseu Dão Lafões, Portugal) e desenvolvida no contexto de uma residência artística realizada em Génova entre 9 e 20 de dezembro de 2024.
Apoio de mediação de Amici di Ponte Carrega e apoio académico da Universidade de Aveiro e da Escola Superior de Artes e Design (Caldas da Carinha), no contexto da investigação do autor no âmbito do Programa Doutoral em Criação Artística.