Luís Costa e Ana Rodríguez
Rio, gente, trabalho e alimento
Saídos da aldeia de Nodar, e mais de uma década depois de termos percorrido extensivamente o rio Paiva, da nascente até à foz, chegámos a Reriz e a VIla Nova, aldeias irmãs da mãe rio. Tendo presentes muitas histórias ouvidas no passado sobre a relação das comunidades com o rio, percebemos que não há dois lugares iguais, que cada aldeia cria o seu próprio livro oral de contos sobre o quotidiano, feito de gente ida e de gente atual, de trabalhos imensos e da sempiterna busca de alimento. A obra sonora resulta de uma reflexão conjunta de Luís Costa, que viveu o quotidiano de Reriz e de Vila Nova, e de Ana Rodríguez, que se preparava para seguir viagem para um lugar perdido no norte do Uruguai: Rincón de Paiva. O mesmo Paiva, uma irmandade transatlântica perdida no tempo que talvez ainda possa ser compreendida através dos sentidos.
Luís Costa (1968) é curador de práticas artísticas contemporâneas, investigador social, artista sonoro, educador e animador cultural em contexto rural, no contexto da associação Binaural Nodar. Coordenador do Lafões Cult Lab, um conceito de pesquisa e acolhimento artístico e de investigação social desenvolvido no território português de Viseu Dão Lafões, o qual já acolheu centenas de artistas contemporâneos e investigadores sociais de todo o mundo. Coordenador do Arquivo Digital Binaural Nodar, um projeto de pesquisa, catalogação e mapeamento sonoro e audiovisual da memória coletiva dos territórios rurais de intervenção da associação. É autor e editor de vários livros sobre património imaterial e sobre arte contemporânea em contexto rural, tendo apresentado o seu trabalho artístico sonoro e media em universidades, museus, espaços comunitários e locais “site-specific” de Portugal, Espanha, Itália e Uruguai.
Ana Rodríguez (1975) nasceu em Montevidéu, vive e pesquisa em contextos rurais desde 2001, ano em que se estabeleceu em Tacuarembó, no norte do Uruguai. Antropóloga formada pela Universidade da República do Uruguai. Cursou o mestrado em Teoria e Prática do Documentário Criativo na Universidade Autónoma de Barcelona e está atualmente a cursar o mestrado em Ciências Agrárias pela Faculdade de Agronomia (FAGRO) da Universidade da República do Uruguai. Formou parte da equipa docente do Núcleo de Estudos Rurais (Sede de Tacuarembó da Universidade da República do Uruguai) entre 2016 e 2018. Realizou várias publicações e documentários etnográficos sobre a memória da escravidão, ofícios rurais e medicina e religiosidade popular (2003-2010), criou um CD de contos de tradição oral com paisagens sonoras (Los cuentos de Mamá Carolina, 2013), criou o Mapa Sonoro do Uruguai (2016) e é artista e investigadora residente na Binaural Nodar (Portugal) desde 2017. Atualmente, investiga metodologias de trabalho com som e com populações rurais enquanto ferramenta de contribuição para projetos de desenvolvimento local.
Esta residência artística faz parte do ciclo ‘Água doce, água salgada’, um projeto de cooperação entre a Binaural Nodar (Viseu Dão Lafões, Portugal) e Amaneï Salina (Ilhas Eólias, Itália).