O Carnaval, ou o Entrudo, é uma festa com origem pagã que remonta aos tempos da Grécia e Roma antiga. No mundo rural católico do Norte da Península Ibérica, o entrudo enquadra-se dentro dos rituais calendarísticos de inverno como um parênteses tolerado pela igreja de libertação das energias vitais, ao qual se sucede o início do período quaresmal, necessariamente solene e moderado. As comunidades rurais do Nordeste de Portugal viveram durante séculos num contexto de isolamento e de pobreza, pelo que o entrudo também significava um alívio transitório da vida árdua, no qual os papéis sociais se subvertiam, o servo podia ser amo, o homem podia ser mulher e até animal e em que as máscaras e o travestimento aprofundavam o mistério e o burlesco.
Lazarim, aldeia e freguesia do município de Lamego, terra de transição entre a Beira Alta e Trás-os-Montes é símbolo de um dos últimos carnavais rurais no distrito de VIseu, sendo que a tradição que esta aldeia encarna estendia-se até há meio século atrás à maioria das aldeias serranas do Montemuro, da Gralheira ou até do Caramulo. As características principais deste carnaval são as corridas pela aldeia de rapazes mascarados com roupas de tiras e farrapos, com palhoças (capuchas de junco), chocalhos à cintura ou nas pernas e máscaras feitas localmente em madeira ou couro e representando seres disformes, diabólicos ou animalescos. Estas corridas são acompanhadas de gritos e risos e têm o objetivo de assustar os restantes habitantes (como os mais velhos ou as raparigas). A terça-feira de Carnaval culmina com a leitura do testamento do compadre e da comadre no largo principal da aldeia, uma oportunidade para um rapaz e uma rapariga da aldeia deliberarem sobre o comportamento, respectivamente, das raparigas e dos rapazes locais, com referências eminentemente jocosas e às vezes escabrosas.
Numa tarde soalheira de inverno de dia de Carnaval, a multidão aglomera-se no largo da junta de freguesia de Lazarim, no momento mais esperado do dia: a leitura do testamento dos compadres e das comadres. Gravado em 24 de fevereiro de 2009 por Luís Costa, com um gravador Fostex FE-2LE e um microfone Audio-Technica AT822. Editado por Luís Costa.