Os cantares tradicionais de Levides fazem parte do cancioneiro regional da própria aldeia de Levides, do município de Vouzela ou da região de Lafões (uma sub-região culturalmente uniforme, a qual reúne, para além de Vouzela, os municípios de São Pedro do Sul e de Oliveira de Frades), sendo que parte do reportório insere-se na tradição das polifonias vocais de entre a Serra do Caramulo e o Maciço montanhoso da Gralheira, Freita e Arada. Estamos pois no mesmo universo musical que o dos cantares de Manhouce, de Arões, de Candal, de Cambra, de Carvalhal de Vermilhas ou de Fornelo do Monte.

Estes são cantares que nos falam de rios, de ribeiras, de riachos, de montanhas, de hortas, do mato de tojo ou carqueja, de árvores como as macieiras, pereiras, loureiros, videiras, de flores como as rosas; Muitos dos textos abordam as relações entre rapazes e raparigas: os encontros furtivos de namorados, as paixões não concretizadas, o medo da reação da família e da comunidade perante a assunção de um amor ou os homens enganadores vindos de fora da aldeia; Por último, as dinâmicas sociais do mundo rural estão igualmente bem presentes: as guerras, os bêbados e andrajosos da aldeia, as profissões como a de resineiro, ferreiro ou padeiro, os momentos do calendário religioso como o São João, a Senhora da Guia ou a Senhora do Livramento, as casas simples e floridas, a pobreza, a busca de uma vida melhor noutras terras longínquas, etc. etc.

Ribeira Nova

Ó ribeira, ó ribeira,
Ó ribeira que és tamanha,
Fui criada na ribeira,
Não me dava na montanha.

Não me dava na montanha,
Entre o tojo e a carqueja,
Fui falar ao meu amor,
Lá no adro da igreja.

Lá no adro da igreja,
Tinha eu dezoito anos,
Era nova, não sabia,
Fiei-me nos teus enganos.

Venho da ribeira nova,
De regar o meu nabal,
Ainda trago uma folhinha,
No laço do avental.

No laço do avental,
Nas rendas do teu vestido,
Meu amor, eu vou para a guerra,
Deixa-me ir dormir contigo.

Deixa-me ir dormir contigo,
Uma noite não é nada,
Eu entro pelo escuro,
E saio pela madrugada.

Não entras pelo escuro,
Nem sais pela madrugada,
Eu sou rapariga nova,
Não quero ser difamada,

Não quero ser difamada,
Nem por ti nem por ninguém,
Eu não quero dar desgostos,
Ao meu pai e à minha mãe.