Serafim Esteves, nasceu na Relva, concelho de Castro Daire, num singelo colchão de palha, em casa da sua avó materna. Filho e neto de mães solteiras, foi criado com a mãe e com a avó. Aos 4 anos de idade a mãe casou-se e Serafim manteve-se a viver com a avó, tendo frequentado a escola até à terceira classe. Como filho mais velho, teve que tomar conta dos irmãos, fruto do casamento de sua mãe, e ajudar no trabalho do campo. Conta que a professora pediu à sua mãe que o deixasse fazer a quarta classe, mas o padrasto opôs-se. Foi uma vida de muito trabalho, e difícil, e Serafim viu-se obrigado a ir “servir”. Com 17 anos e cansado de servir, foi durante três meses para a plantação do arroz, “lá para os lados de Aveiro” e recorda-se que recebia, à época, 100$00.
Chegada à idade de ir à inspecção ficou apurado: foi para o Regimento de Infantaria, R14 em Viseu. Deu nas vistas, pela resiliência, e um Alferes convidou-o a integrar o grupo de comandos para tirar a especialidade de maqueiro. Ficou em 1º lugar, recorda com orgulho, e no dia juramento de bandeira recebeu um prémio, que na altura era um luxo, uma caneta de tinta permanente. Regressa novamente ao R14 de Viseu, onde só continuavam no curso os que tivessem a 4ª classe. Espanta-se ao ver o seu nome, o primeiro prémio tinha-lhe valido essa possibilidade, que mudaria a sua vida. Passou por Coimbra para terminar o curso de maqueiro, estagiando mais tarde, no Hospital Regional nº 4, em Évora e posteriormente ingressando na Força Aérea, em 1956.
Durante todo o tempo de tropa em Tancos poucas vezes veio à sua aldeia, pois a viagem era longa. Um dos maiores orgulhos pessoais de Serafim Esteves, que recorda com saudade, foi como levou para a sua aldeia da Relva a tradição do “Cantar das Almas” durante a quaresma a que tinha assistido para os lados de Pindelo dos Milagres (São Pedro do Sul) quando lá servia, tendo ajudado a recriar e a perpetuar esta tradição que ainda hoje é interpretada por habitantes locais.
Entrevista conduzida por Luís Costa. Captação de imagem e som por Luís Costa a 29 de Maio de 2019. Editado por Liliana Silva.