Nascida e criada em Sacorelhe, freguesia de Ventosa e concelho de Vouzela, Maria Helena Torres frequentou a escola até aos 10 anos, idade com que começou a guardar as ovelhas.
Naquela época, recorda, o gado era abundante na aldeia e uma importante fonte de rendimento para as famílias, permitindo a venda de um cordeiro, de um cabrito ou de um vitelo ajudar nas despesas.
Ditou o destino que fosse aprender a costurar na casa da “Albertininha”, no Cimo da Feira, na vila. Saias, casacos, vestidos e blusas… aqui fazia-se um pouco de tudo.
Quando voltou para casa, continuou a arte e casou, aos 18 anos. O marido, entretanto, emigrou para a Alemanha, e Maria Helena ficou com os pais, a cuidar da filha e a trabalhar no campo.
Paralelamente, aprendeu a fazer capuchas de burel, com Prazeres Ferreira, que lhe ensinou também a fazer camisas de linho com peitilho.
Tanto o burel como o linho eram preparados em casa, num processo moroso que ocupava sobretudo os serões, que eram sinónimo de festa, e as idas para os pastos com os animais. A lã provinha da tosquia das ovelhas, que se fazia de forma manual, e era depois lavada – no tanque, no rio ou “numa corga onde corresse água” – e trocada ao ‘lãzeiro’, que regressava com as maçarocas. Depois de dobada e tecida no tear, levava-se ao pisão, em Negrelos, para dar consistência ao tecido, com que se faziam as colchas, mantas ou tapetes.
Também as capuchas nascem neste contexto. Ao início, tendo em conta a menor experiência, Maria Helena Torres começava por alinhavar a peça, mas atualmente as mãos já fazem o processo de forma quase autónoma. Entendida a peça de burel no chão, com um pouco de giz ou sabão vai marcando o trajeto percorrido pelo fio norte, que assinala o local específico a talhar. O resultado é uma capucha tradicional, com que os pastores e os trabalhadores rurais se protegiam dos rigores dos invernos caramulanos.