Manuel Rodrigues confessa-se um apaixonado pelos costumes da terra que lhe serviu de berço, pelo que, mesmo quando foi obrigado, pelas circunstâncias da vida, a residir longe, fez sempre questão de manter a ligação a Vermilhas, no concelho de Vouzela.
Numa freguesia marcadamente rural, em que se vivia da agricultura e da pecuária, as crianças começavam cedo a ajudar nos trabalhos agrícolas e a guardar as vacas depois das aulas. Chegou a haver 150 vacas de trabalho, que passavam a lenha e o feno, carregavam o estrume, lavraram as terras e criavam os vitelos; fora os rebanhos de ovelhas e cabras, e os frangos caseiros para consumo da casa e venda.
A par da exploração pecuária, importante para a economia das famílias, a terra era muito fértil, assegurando a produção de milho, centeio, batata, feijão e legumes, além da pastorícia.
Apesar de as dificuldades serem maiores, “havia alegria”. Manuel Rodrigues cresceu a ouvir cantar e habituado às “vozes encantadoras” dos rapazes e dos homens durante a noite. Quando ganhou mais liberdade, juntou-se-lhes.
Mas as tradições não terminavam aqui. A sua infância e adolescência ficaram ainda marcadas pelas brincadeiras de Carnaval, pelas danças na eira – como as “traulitadas”, o Serrar a Velha, o Amentar das Almas e os Entremezes. Terra de gente alegre, Vermilhas chegou a ter três bailaricos – “no Fundo do Povo, na Costa e na casa da São” –, com a tocata que havia disponível.
As idas a pé para as romarias eram outra das caraterísticas deste povo. “Quando vão para um arraial, levam madeira que dá para armar uma igreja”, assim era conhecido, por ser comum usar um cacete nas saídas.
Com vista privilegiada para a serra, a sua beleza natural não passava despercebida às gentes da aldeia. Mas os rigores climatéricos também não. Daí que a capucha de burel andasse sempre com os pastores, no inverno para agasalhar e no verão para não se sentarem nas ervas molhadas. Tal como diz o ditado aqui reproduzido por Manuel Rodrigues: “Até ao São João leva o gabão, e daí para diante, leva-o sempre”.