A vida de José Rodrigues, com 80 anos, acompanhou desde sempre os ciclos da agricultura e da criação de animais, ofícios que aprendeu com os pais. Na sua aldeia, Joana Martins, no concelho de Vouzela, toda a gente tinha vacas, pois “era o que se usava” para todas as tarefas. Hoje só restam três exemplares.
“Como os cordeiros que seguem a mãe logo após o nascimento”, assim aconteceu consigo, começando a trabalhar desde tenra idade. Os pais tinham duas juntas de vacas e quando se estabeleceu por sua conta, também manteve a arte, assegurando tanto o pastoreio, monte acima em direção aos baldios mais airosos, como o ato de as junguer para lavrar os terrenos.
O gado, com especial destaque para a raça mirandesa, era, assim, aproveitado para trabalho e criação. Ensinar os animais não era, no entanto, fácil e exigia perseverança. “Hoje ninguém quer isso”, lamenta, acrescentando que os preços da venda também não são apetecíveis, mantendo-se iguais há largos anos.
José Rodrigues guarda ainda um carro de vacas, imprescindível na época em que a maquinaria não tinha chegado. Nesses tempos – em que era um equipamento essencial para o trabalho agrícola de antanho e o principal meio de transporte para o feno, lenha, alimentos e alfaias e não só – o chiar caraterístico das rodas permitia adivinhar quem se aproximava.
Para trás ficam as memórias dos negócios que se faziam em Oliveira de Frades, São Pedro do Sul, Vouzela e na Feira do Pedrão, onde se ia a pé, com os vitelos a seguirem a mãe. Também os concursos pecuários – da Giesteira, da Malhada do Salgueiro e de Vouzela – eram ponto de encontro privilegiado para os apreciadores.
Jorge Rodrigues, de 28 anos, segue as pisadas do avô, em Ansara, povoação da freguesia de Ventosa – Vouzela que lhes serve de berço e na qual restam pouco mais do que 10 habitantes. Numa altura em que as terras tendem a ficar a ficar ao abandono, os dois procuram resistir.
Criado no mundo rural, aos cinco anos já ia ajudar os avós com os animais e seguia à frente a comandar a andança da junta a lavrar a terra. A malga com café, açúcar e pão ajudava a aquecer as madrugadas de trabalho.
“A chover, a fazer sol ou a nevar, o gado tem de sair. Não há domingos ou feriados”, nota o jovem, realçando que as férias são passadas nas terras, a fazer a sementeira ou outra tarefa ditada pelo ciclo das colheitas. “É um gosto que eu tenho. Quero vê-las granjeadas”, explica.
Pelos ombros, a capucha de burel, mandada fazer em Sacorelhe e que herdou da tia, ajuda a proteger dos rigores do inverno na serra do Caramulo.