Até ao final do século passado, “o baldio dava muito jeito”, uma vez que “não havia emprego e vivia-se da agricultura e da pecuária”, retrata Fernanda Eirinha. A habitante do Malhadouro, freguesia de Campia, que regressou com o marido, Fernando, de Lourenço Marques – Moçambique na sequência do 25 de abril de 1974, recorda que os poucos habitantes da aldeia se uniram a Rebordinho para a constituição da Assembleia de Compartes, por ser “o mais lógico”.
Fernando Eirinha, que ajudou na formação do organismo, recorda esses primeiros tempos. “Senti-me bem, senti-me entusiasmado. Nunca houve nenhuma fricção entre nós e os de Rebordinho”, destaca, acrescentando que “as pessoas aderiram todas”, pois “sentiam que as povoações ficavam ‘esquecidas’”.
Para a esposa, a instituição é “útil”. “Os comportes usam os rendimentos a favor da povoação e a Junta levava-os de umas para as outras. É mais justo”, explica, enumerando alguns dos melhoramentos realizados na aldeia, como a calçada e o arranjo dos tanques de rega. “Fizeram o que é essencial e sentimo-nos beneficiados”, acrescenta.
O antigo dirigente mostra-se de acordo e, com satisfação, considera que “podemos dizer que vivemos bem”.
Da janela da habitação do casal é possível avistar alguns terrenos baldios, antes usados em benefício do pastoreio, depois ocupados com plantação de pinheiro e mais recentemente, após os fogos, “dominados pela ‘praga’ de eucaliptos”. Em jeito de balanço, defendem que o trabalho dos Compartes de Rebordinho e Malhadouro tem corrido bem.
Entrevista realizada no âmbito do projeto “A Valorização dos Baldios de Rebordinho e Malhadouro”.
Uma coprodução entre a Binaural Nodar e a Comunidade Local dos Baldios de Rebordinho e Malhadouro, com o apoio do Município de Vouzela e da Junta de Freguesia de Campia.