“Há cinco senhoras na rua, quatro vestidas e uma nua.”
A adivinha chega-nos pela voz de Delminda Marques, residente em Póvoa de Codeçais – freguesia de Fornelo do Monte – Vouzela, e retrata o labor das agulhas a tricotar meias de lã, também conhecidas como caturnos, que eram usadas para ajudar a combater os rigores dos invernos serranos. Enquanto fala, a habitante vai mostrando as quatro agulhas, com igual número de malhas, que ficam unidas ao novelo, enquanto uma outra fica solta e vai fazendo par com as restantes.
Na aldeia todas as famílias tinham ovelhas, cabras ou vacas e, não raras vezes, eram as crianças que as pastoreavam nos outeiros ou nos baldios.
Quando começou a guardar os animais – dez ovelhas e três cabras – “mal sabia falar”, mas, como era a mais velha, cabia-lhe a tarefa. No monte juntavam-se mais de 100 animais e os mais novos entretinham-se a brincar, a fazer adivinhas ou a ralhar e a bulhar entre si.
Na algibeira do avental ou num cestinho, as mães levavam a lã para fiar, a renda ou as meias para tricotar. Foi assim que Delminda Marques aprendeu a arte, continuando a fazer caturnos e camisolas até aos 40 anos.
A lã era comprada na feira em maçarocas e depois torcida na roda ou obtinha-se da tosquia das ovelhas, rogando-se alguém conhecido para o efeito. Era depois lavada no tanque ou no rio, carpeada e seguia para o cardador. Fiava-se, dobava-se e terminava no tear, obtendo-se uma peça que era apertada no pisão que existia em Alcofra.
Para fazer as meias, geralmente usava-se apenas uma cor ou traçava-se com lã russa. Conta Delminda Marques que havia ainda a lãzinha, mais macia, que se comprava numa loja, na vila, e que se usava nas camisolas.