O espírito da povoação de Rebordinho surpreendeu, desde cedo, Carlos Duarte. Ao contrário de outras aldeias, onde os habitantes se refugiavam em casa quando não estavam na lavoura, aqui novos e velhos sentavam-se de volta da Capela, partilhando experiências. Foi, assim, que o próprio adquiriu conhecimentos diversos, incluindo sobre os baldios.
Numa viagem pela história destas propriedades comunitárias, nota que, logo no início do século XX, os terrenos eram importantes para a alimentação do gado miúdo. Na década de 10, face à escassez de estrume e para evitar abusos, foi feito o pedido para a divisão dos baldios na Junta da Paróquia, liderada pelo sacerdote. Consoante o número de cabeças de gado, os moradores recebiam mais ou menos talhões.
Nos 40, o estrume tinha de ser cortado com o podão e era proibido fazê-lo à sachola, estando essa prática sujeita a multas.
Já a sementeira do penisco, a semente de pinhão, só podia ser feita pela junta e, nessa época, os particulares não podiam ir com o gado para os baldios.
Carlos Duarte, atual Presidente da Junta de Freguesia de Campia, recorda ainda que cada cidadão, entre os 18 e os 65 anos, era obrigado a dar dois dias de trabalho por ano à junta, para fazer a limpeza dos terrenos; e cada junta de bois tinha de contribuir com uma jorna. Já os proprietários confinantes com caminhos tinham de o limpar duas vezes por ano.
A seguir ao 25 de abril, começa o movimento de criação dos compartes na freguesia, sobretudo naqueles onde a área era maior e que geravam maior riqueza, nomeadamente em Rebordinho, Albitelhe e Crasto e, mais tarde, Cambarinho. “O baldio é do povo”, lia-se em letras garrafais.
No caso específico de Rebordinho, Carlos Duarte recorda alguns momentos marcantes, como um grande fogo em 1974, que queimou os pinheiros-bravos da Penalva e fez com que a espécie de disseminasse sozinha. Em 1987, aconteceu o mesmo na Malefa. Pelo meio, fizeram-se aceiros e a monda dos pinheiros. A resina era outra fonte de riqueza, sublinha, chegando a render 3 mil contos.
O responsável não tem dúvidas de que, havendo espírito de união, uma boa administração, disponibilidade para fazer o trabalho voluntário dos compartes e uma plantação eficiente, o futuro da floresta está assegurado, bem como o bem-estar das aldeias. Em Rebordinho, nota, os resultados estão à vista, com caminhos bem arranjados, a Casa dos Compartes e uma boa relação com as instituições da freguesia e a Câmara.