00:00 [Apresentação] António de Paiva – nasceu a 22 de Dezembro de 1935 – nasceu Naçalhete? Na casa dos pais que era num largo ao pé dos chafariz – depois foi viver para a casa de onde fala, porque uma senhora não o largava
00:38 [nascimento]quando a mãe o teve a tia da mulher é que era a parteira – quando a parteira ajudou a mãe a dar à luz agarrou – o com um lençol de linho gelado e esteve arreganhado e já nem mamava nem nada -deram lhe uma chuxa que usavam antigamente feita de pano e açúcar e ele então acordou porque já estava a passar para o outro lado -começou a chuchar e arrebitou
02:09[pais] [casa] [irmão] os pais sempre moraram ali – o pai morou no Brasil antes de casar, quando casou foi para Lisboa, morou em Almada – quando veio continuou a contruir a casa – veio um fogo e queimou a casa toda tinha António sete anos há já 70 anos .o fogo queimou tudo – a mãe tinha tido outro filho que tinha 3 semanas- havia lá um senhor que era criado e compadre dele e teve de saltar da janela fora – a casa era baixa mas teve de mandar um colchão lá para baixo e atirou-se para o colchão – tem um irmão 4 anos mais velho que está no Brasil que saiu pela porta fora que estava a arder, ia de camisa porque na altura não havia pijamas – o irmão saiu e foi para casa dos vizinhos, tinha onze anos – esse é o irmão mais velho que está no Brasil há quase 60 anos – o pai queria fazer a casa já com vários filhos: Arlindo, António, Domingos, Daniel, que tinha 3 semanas quando ardeu a casa – a mãe abrigou-se com uma miúda ao colo e correu a pedir ajuda – o pai teve que reconstruir a casa sabe deus como
04:44 [infância] Diz que nem se quer lembrar que lhe dá vontade de chorar – o pai fartou-se de trabalhar para cuidar dos filhos, para eles não passarem fome – a infância foi um pouco ruim – andava com as ovelhas e as vacas lá fora na geada – enchia as algibeiras de pão e milho, daquela broa – chegava às fontanheiras por cima do Gafanhão onde havia água boa, e ainda há – bebia a agua com pão nesse sitio – há noite comia um caldo de feijão com couves e já não era nada mau
05:44 [escola]andou na escola – fez o exame da 3ª classe – iam para a escola em São Martinho e aprendia-se pouco – a escola estava sempre cheia de crianças do Gafanhão, Macieira da redondeza toda – os que chegavam mais atrasados não aprendiam nada porque ficavam sempre à porta – ele encostava a cabeça à carteira e adormecia – depois mais tarde tirou o exame da 4ª classe – tem o diploma da 4ª classe – mas sabe ler e escrever como muitos não sabem – é o tesoureiro da igreja de São Martinho, é ele que passa os cheques de ordenado ao padre de Covas de Rio Covelo ? , ?, e do Gafanhão – os padres admiram -se que ele saiba ler e escrever tão bem apenas com o exame da 4ª classe –
07:14 [brincar][irmãos ]brincavam na rua, havia muitos rapazes e raparigas, hoje não há ninguém à vista do que era – só em casa dos pais eram oito irmãos – em casa dos sogros eram 4 filhos- em casa do tio do Martins eram 7 filhos – em casa do Soares 4 filhos, do Rocha 4 filhos – agora não há cá ninguém
08:08 [trabalhar na terra] trabalhou em jovem até ir para a tropa – trabalhou sempre no duro, era sua obrigação – de verão, sachar o milho e empegar – trabalhavam muito para pouco ter, não tinham nada – o pai tinha comprado uns terrenos antes e depois vendeu-os para construir a casa porque tinha muitos filhos, para dar de comer aos filhos – mas tudo se fez e melhor que agora que são só vagabundos –
09:10 [bailes] não era muito dado a bailes – so começou a frequentar bailes depois de vir da tropa – na aldeia não havia bailes porque não havia muitas raparigas – bailes era na Laijosa ? e em Sequeiro e ? – em Sá não, não havia raparigas era mais rapazes – em sua casa eram 6 rapazes e duas raparigas que vieram mais tarde –
09:50 [casamento][mulher] está casado desde 65, há 47 anos – a filha Cristina tem 46 – a mulher teve um ano sem ter filhos e tem duas raparigas – casou-se em Dezembro no dia de Natal, dia de chuva- conheceu a mulher quando ia a Sá de férias – estava em Lisboa porque quando saiu da tropa nunca mais em Sá viveu –
10:55[tropa] andou três anos na tropa, um em Viseu e dois na Índia – quando veio da tropa em Junho foi para Lisboa passado um mês. Só ia a Sá ao fim do ano e certos anos nem sequer ia.
11:13 [namoro] [casamento] ele podia estar à vontade mas os pais dela não alinhavam nisso – os pais não queriam que ela namorasse com ele – queriam outra gente a mulher não arranjava mais ninguém, se não fosse ele a mulher ficava para tia – queriam um homem que fosse menos teso – casaram em São Martinho e o comes e bebes foi lá ao lado num barracão que agora serve para galinheiro – depois de casarem foram para Lisboa e lá é que criaram as filhas que são duas – Uma das filhas está casada no Gafanhão e já tem dois rapazes, um deles já tem 18 anos e o outro anda em São Pedro na escola – a mais velha está casada em Covas do Rio que não tem filhos
13:08 [ Lisboa] [reforma] ele estava lá, veio à terra casa e levou a mulher que não o largava com ele – mais tarde quis vir para a terra e ela não queria – quando se reformou foi para Sá – acha que fez mal mas tomou essa decisão e depois ja´nao havia remédio
13:49[casa] acha que a casa é praticamente uma barraca mas foi António que mandou fazer tudo – deitou tudo abaixo e reconstruiu conforme podia, mais a mulher quando as filhas eram ainda novas
14:25 [Lisboa] foi para Lisboa quando veio do estrangeiro, em 59, tinha 22 ou 23 anos – onde estava não dava para se governar – nas Minas ? havia trabalho e ganhava-se dinheiro agora não há nada- foi assim a vida teve que passar por muito martírio – foi de carro para Lisboa e a mulher também – mais tarde foi de comboio já tinham a filha – havia um táxi que fazia serviço de Sul para Lisboa, era o Nicolau, seu primo. Só quando não havia táxi é que iam de comboio – quando lá chegou achou difícil arranjar onde dormir, dormiu muitas vezes no apeadeiro do comboio em Marvila – não tinha lá família mas por vezes as famílias desmarcavam-se – não tinha lá irmãos, encostou-se aos vizinhos que era da Lajeosa ? e deram lhe dormida – arranjou depois casa onde foi habitar -mais tarde foi para lá a mulher – depois foi morar para o pátio colégio onde tinha uma casa mais ao menos e onde tinha um irmão que está lá a viver agora – depois foram se embora
17:17 [trabalho em Lisboa] o primeiro trabalho foi num armazém de vinhos, Pereira da Fonseca- ao fim de dois anos foi para a fábrica da pólvora onde esteve quatro anos – depois foi outro armazém de vinhos, Sé vinhos ?, esteve lá perto de 20 dias – e de lá foi se embora.
18:09 [dia a dia no trabalho] onde estava era encarregado mas trabalhava mais de aqueles em que mandava – antes queria fazer o serviço que mandar – nunca gostou de mandar em ninguém – na fábrica da pólvora mandava
18:42 [festas e bailes] todos os domingos para o baile – em Cinfães faziam lá um bailes todos os Domingos – havia o sol e dó na rua do açúcar – havia contradanças e António adora dançar contradanças com o pessoal de Cinfães – não havia um domingo que não fosse ao baile só se estivesse doente – era a convivência, ao domingo, não havia mais nada que prestasse – havia alguns de Sá mas poucos -nao gostavam de pagar o dinheiro para a entrada, custava-lhes a sair das mãos – Só no dia de festa do género Carnaval é que iam
20:05 [quando vinha à terra][mulher]quando ia à terra notava uma diferença grande -chegou a ir de Sá aos pesos com ?? tinha que se ir à Rompecilha e subir a estrada toda – ia mais um rapaz que já morreu, o Floriano que ia com ele – isto vinha de férias – quando ? a mulher não o deixava ir para lado nenhum – só deixava ir a festas de ano a bailes não – a mulher nunca queria ir – para a festa do Gafanhão de Macieira ou de Rompecilha ela também já não pode porque ja partiu as duas pernas em dois anos seguidos – a primeira perna que partiu foi um carneiro que a amarrou em São Martinho e a outra foi porque escorregou – o carneiro apareceu pela retaguarda e ela caiu aos tombos e António teve que o mandar matar – muito martírio
22:00 [paróquia de São Martinho] está ligado à paróquia há uns 13 anos – é juiz e há 12 anos que é tesoureiro da igreja de São Martinho – quando o padre Mário se foi embora já ele era tesoureiro – quando o padre foi para Tondela ele foi para tesoureiro – António está entregue aos dinheiros da paróquia – o que lhe dá mais trabalho é o São Macário – quando é a festa de são Macário é um martírio contar as moedas negras – tem um neto que o ajuda e é o que lhe vale – vem do Gafanhão e ajuda-o.
23:33[responsabilidades como tesoureiro] [trabalho no campo] se houver um funeral abre a igreja para pôr o corpo lá dentro – vai buscar a cruz para fazer o funeral – isto em relação à igreja porque faz o também o seu dia-a-dia no campo quando pode – hoje foi para São Martinho depois foi até à videira – é ele que prepara os cálices e as toalhas quando prepara as missas – ele é que põe tudo a jeito e coloca na mesa para o padre – marca as missas e as intenções ? – tem um irmão que também pertence à igreja mas não dá jeito, diz que não sabe – tem um livro onde aponta tudo e tem o livro das contas da igreja com ele, do dinheiro que entre ao fim do ano – faz as contas, soma e entrega ao padre para ele ver as contas da igreja se estão certas- praticamente não erra – diz que é uma dor de cabeça ao fim do ano juntar as contas todas das paroquias e capelas da freguesia de Ameixosa, Nodar, Rompecilha, Sequeiros – tem que mencionar tudo o que recebe – e o ordenado de António é 0, não ganha nada com esse trabalho – não se importa enquanto tiver saúde – disse ao padre para arranjar outra pessoa para o seu lugar mas o padre não sabe quem e António diz -lhe que não é eterno e que já não pode, que já tem 77 anos – não vê mais ninguém que tenha jeito para aquilo –
26:39 [sacristão de antigamente]era um senhor de Rompecilha que já está acabado – vive em Cimo de Vila -é o Sr Amadeu de Almeida Dias, morreu-lhe há pouco tempo irmão que era mais novo que ele que era o Benjamim – era Sacristão e Juiz de igreja mas António já o ajudava na altura – não marcava as missas – o Bernardino que é primo dos Costas de Nodar – o Fernando Costa era boa gente e já morreu –
28:02[quem toca o sino] é o António que toca o sino mas é tudo eletronico – chega à sacristia toca nos botões e o sino toca – quando há trovoada aquilo avaria – telefona para Braga para virem arranjar –
28:29 [festas religiosas]em São Martinho é a festa do Senhor, da Senhora, de São Martinho e de Santo António – São Martinho é dia 11 de Novembro, da Senhora é em Outubro, do Senhor é em Junho e Santo António é a 13 de Junho – a missa em São Martinho é de 15 em 15 dias – uma vez em São Martinho e outra no Gafanhão – é nestas alturas que a procissão sai se não não sai.